segunda-feira, 25 de março de 2013

Desejo de Vida x Desejo de Morte

Acho que não é exatamente um segredo que sou uma suicida em potencial, mas não sei até que ponto isso é verdade. E digo isso olhando honestamente para a minha história e meu interior.

Lembro que desde os meus 8 anos de idade, as vezes eu me pendurava na sacada no fundo da minha casa e imaginava como seria se eu pulasse, como seria morrer, acabar com o sofrimento, acabar com as dúvidas, com as zombarias, com as dificuldades... Mas eu sempre tive muito medo da dor, medo do que eu iria ou não encontrar do outro lado. Medo de depois da morte não haver nada, ou pior, haver algo mais aterrador, mas principalmente medo das possibilidades que eu estaria deixando para trás.

De uma forma ou de outra, minha opção sempre foi continuar, porque se eu tivesse de fato um dia optado em por um fim na minha vida... Bem, para uma pessoa tão determinada como eu quando boto algo na cabeça, acredito que eu já estaria mortinha da silva.

Medo da dor... Essa é uma realidade, mas como explicar então minhas "auto-multilações" em momentos de desespero? Como explicar o incrível prazer que sou capaz de tirar da dor em algumas situações.

Talvez eu tenha pensado em suicídio para me fazer de vítima, ou até mesmo para tentar ver até que ponto as pessoas se importam... Mas até que ponto é possível se importar com alguém que quer tirar a própria vida? Deixando um pouco de lado esse mimimi moderno pró-vida, quem realmente consegue deixar de lado seus assuntos para se preocupar se alguém vai ou não por cabo na própria vida.

Lembro de uma briga épica minha com a Grazi, o Eric tinha tentado suicídio (tentativa de suicídio ou showzinho para chamar atenção?), mas o fato é que fiquei seriamente arrasada com aquilo, eu me importava com ele, e supostamente ela também... Se importava com ele, e se importava comigo e com o fato de eu estar mal. Marcamos no MASP, 22h, cheguei as 21h e mandei um sms, mas as 20:30h ela tinha ido para uma rave! Simples assim! Mesmo tendo combinado comigo, mesmo eu estando perdida e sozinha naquele momento, mesmo um amigo dela internado após ter tentado se matar, ela não pode adiar em algumas horas um plano de diversão.

Antes eu pensava nisso como uma atitude individual, hoje eu vejo que não. As pessoas não se importam. No máximo sua mãe, algum familiar... Mas as pessoas não ligam se você morreu, essa é a verdade. Elas podem fingir que se importam, e chorar um pouco, mas isso não significa nada. Sua existência ou não, não altera a vida de (quase) ninguém. Acredite: você é 100% substituível!

Quando meu cunhado morreu, minha irmã disse que nunca mais iria se envolver com mais ninguém... Hoje ela fala mal do finado tanto quanto falaria de qualquer ex que tivesse largado ela por qualquer motivo. Não julgo ela por isso, o cara era um crápula mesmo, e ela tem todo o direito de seguir a vida dela. Mas eu sei que ele morreu iludido que a morte dele mudaria alguma coisa... Ok, a morte dele fez muita bagunça e foi bem cara, isso afeta a curto prazo, mas a longo prazo, a verdade é que cada vez as pessoas pensam menos nele. A dor vai embora. A morte é uma coisa tão natural, que acredito que todos já nascemos programados para aceitar isso.

Então isso me leva a outro ponto: talvez meu verdadeiro desejo de morte, tenha sido aparecer, ser notada. E o motivo que sempre me impediu de ir em frente, foi a conclusão obvia de que eu morrer não mudaria a vida de ninguém, só a minha efetivamente. E acho que isso que diferencia minhas primeiras tentativas da minha última. Porque só na última vez que pensei (e desta eu nem tentei efetivamente, e talvez não tenha tentado justamente porque pensei seriamente e se fosse fazer seria algo efetivo), eu REALMENTE quis morrer, deixar de existir. Não pelos outros, não pelo show pirotécnico, mas pela simples desilusão completa do mundo. Pela triste constatação de como isso tudo é uma bosta. Como minha vida foi sempre uma completa ilusão. A conclusão quase trágica, mas que se tornou cômica, da inexistência do amor. De como todas as promessas, tudo foi mentira! E eu senti um vazio tão grande, que me entregar ao completo vazio me pareceu a decisão mais sensata.

Ok, agora estou focalizando no trabalho, mas isso não me preenche, penso no dinheiro e nas coisas materiais e tudo que vejo é uma vaidade vazia e sem sentido. Penso na minha história e nas pessoas que povoam minha vida, e tudo parece mentiroso, ilusório, não vejo sentido em nada! Penso no amor, afeto, carinho, até mesmo no sexo, e tudo é vazio, vazio, vazio!

Busco me manter ocupada a maior parte do tempo, mas até toda essa ocupação parece uma enorme besteira. Essa agitação frenética e sem sentido que nos leva a lugar algum. Já tentei usar a filosofia do "não importa o destino, o importante é curtir a viagem", mas essa viagem é uma merda! Tudo que sobra é dor, desconsolo, desamparo!

Todo o conhecimento que agreguei em tantos anos, todas as experiência, todos os questionamentos... Pra quê? Por quê? Pra quem?

Hoje não consigo mais pensar em suicídio... Acho que todo o desejo de morte exige que haja também um desejo de vida. Quem deseja morrer está se opondo ao seu desejo de viver, e a completa ausência de desejos?

Fui fumar um cigarro, e percebi o quanto é estúpido encher um papel com matinho e outras coisas, tacar fogo naquilo e engolir a fumaça e depois soltar... Quer dizer, se você parar para pensar sobre cada pequeno ato da sua vida, verá como a vida é algo completamente imbecil e sem sentido!

Falar que o sentido da vida é Deus, a Paz, a Felicidade, etc. Faz tanto sentido como dizer que é 42!

Paradoxalmente, me tornei uma boa garota, porque na mais profunda ausência de desejos, não temos também a repulsa natural, então somos mais facilmente condizidos. Uma pessoas desesperançada é um ótimo trabalhador braçal, porque pelo menos essa é uma forma de passar o tempo.

O que quero com tudo isso? Nada! Como tudo, nada disso tem sentido algum.

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