segunda-feira, 22 de julho de 2013

A carta mais bonita que já me escreveram

Meu coração está estéril. Aparentemente seco. Parece que agora você foi de vez. Deixou uma semente mal molhada dentro de mim e partiu. O meu corpo é como uma casca onde algo indefinido se esconde. Não sei te dizer ao certo o que eu sou. Eu não me reconheço como homem, mas não me aceito como mulher. Tudo vira uma comédia de erros. Cenas curtas que esfacelam. Chove. O frio é cortante. Mas ainda resta em meus braços o calor do seu corpo alvo. Seu sorriso penetrando como um pequeno enigma. Me ocupando de decifrá-lo esqueço de mim. E não há nada melhor que esquecer de mim. De toda essa coisa disforme que com o passar dos anos foi se solidificando em máscaras, cascas e mais cascas. Na certa, eu não tenho mais como me achar. Perdi a ponta do novelo. Mas você de leve me trazia um novo fio. Mas ah, não deixou muito tempo. Escavou devagar o meu muro e começou a se emaranhar nas minhas sombras com delicadeza. No meio dos seus surtos eu me ocupava de entender. De perceber o que era parede, o que era vago, onde estava seu fio. Talvez se juntássemos os dois restos de novelo tivéssemos algo pra procurar.
Eu não quero te deixar ir embora, mas você já está longe. Pegou um caminho qualquer quando eu olhava pro lado. Minto. Eu estava lá quando você partiu. Eu tentei segurar sua mão. Mas sou inábil. Não digo isso por comiseração. Digo por ser fato. Por não saber o que é esse coisa que vejo no espelho, não enxergo o que tenho nas mãos. Você estava adormecida entre os meus dedos. Bastava apenas estende-la sobre o meu peito e permitir que ali ficasse.
Você tocou meu sexo indefinido com a certeza de que ele era real. A minha pele pareceu menos sulfite e mais pele mesmo. Você insuflou calor onde já era árido. E por um instante eu pensei que você realmente não se importava com o que eu era, e talvez eu não devesse. E tê-la dentro de mim me deu a sensação de não ser um estrangeiro pra mim mesmo. Nos seus braços, galgando o seu prazer com vagar o tempo parecia parado. Tão clichê. Mas os minutos não pareciam longos. Não havia a espera. Pela primeira vez em muito tempo hão havia a espera. Aquele momento mudo em que tudo vai se desfazer e voltar a ser uma página em branco, mas cheia de tão velhas entrelinhas. Havia apenas o não querer ir embora. O ficar imóvel. Dentro dos seus olhos verdes. Abraçada em você que parece tão frágil. Eu tenho medo de quebrar sua estrutura, seu corpo é forte e denso mas eu tenho medo de quebrar sua estrutura quando falo. Porque eu não sei falar. Vem como uma torrente subindo a garganta e no meio do caminho se enche de espinhos, pra manter protegido o meu miolo. O meu cerne é mole é úmido. Frágil demais pra ver o sol. Eu tenho um pássaro azul dentro de mim, já me definia Bukowski. “My Bode is a cage” deveria ser um emblema estampado na minha testa. Mas agora que você está longe e já me pintou com todas as minhas mascaras, usou as empilhadas no meu rosto e perdeu o meu olho no meio de tudo brilhando, como dizer? Como dizer essas coisas, que soarão como palavras apenas. E mal sabe, como me custa escrevê-las e le-las. A ponta do dedo dói. Caleja. Inverte as frases, tenta esconder entre escombros de palavras frívolas a incerteza da minha existência.
Você olhou pra mim e viu uma mulher que eu não vejo. E viu a pessoa que eu não vejo. Você me deu forma nos seus olhos. Você começou a me dar forma nos seus olhos. Você pegou os meus pedaços como se não fossem pedaços, como se montar esse quebra cabeça fosse tão comum. Sem estranhamento. E u peguei as suas peças e fiquei estática olhando pra elas. Esperando que você me jogasse uma a uma na cara, entre seus surtos, pra eu começar a entender como montar. Eu montei um pedaço tão pequeno, você um tão maior. Mas como dizer isso? Justo eu que bato na tecla dos “20 dias” do “pouco tempo”. A iminência da sua perda me dá a medida da felicidade e tranqüilidade que eu sentia com você por perto. Eu sou toda interna. A minha alegria é toda interna. Eu aprendi a remexer em aparências. Em calcular transparências. Você explode. Como quando você ri e simplesmente explode. E é lindo. Sinto que fui ignorante achando que poderia conter um vaga lume tão delicado na minha mão áspera. Acho que a velhice não me pesa no rosto, me pesa nos desgostos e se traduz em fala. Por mais que eu tente discursar sobre a necessidade de cura. Eu não sei superar as minhas ausências. A ausência de mim. A ausência que o carinho me faz. E tantas outras ausências. Os copos se sucedem como a minha máquina de superar ausências. Eu me conecto. Deixo meu corpo amortecer. Deixo meu trabalho me amortecer. Tento preencher todos os espaços vazios com tarefas ordinárias. Mas pela primeira vez eu estava feliz em ter alguém pra cuidar. Pra discutir. Pra gostar. Pra ter na língua. E não ligar pra ter corpos sem nome. Mas ter UM corpo, com UM nome, uma textura, um cheiro e um sabor. Justo eu que bato tanto na tecla da calma, estou desorientada. Pensando que eu já não sou nem um nome pra você apagar. Eu fico aqui tagarelando em silêncio com inúmeras folhas de papel. Mas eu fico resistindo. Eu fico procurando os seus vestígios.


quarta-feira, 3 de julho de 2013

Um dialogo sobre xoxotópolis


- Eu acho que Xoxotópolis devia ter prédios em formato de clitores hahahaha
- hahahahahaha desista!
- Por quê? É esteticamente lindo! hahahahaha
- Não vou fazer uma cidade cheia de grelos
- Mas as cidades reais são fálicas! Por que as irreais não podem ser clitorianas?
- Ok! Você venceu desta vez!