segunda-feira, 27 de junho de 2011

Vocação retórica

É engraçado perceber que meus melhores discursos são os que eu faço para defender meus outros discursos por não serem tão bons quanto poderiam! E minha melhor qualidade retórica e defender o porque não sou tudo aquilo que poderia ser... E quando defendo isso finalmente eu sou...

Talvez meu estilo seja eternamente (somente este e não outro) o da frustração...

forma e conteúdo

Acho que não me preocupo muito com a forma fixa... Não me incomoda ser purista ou modernista... Trovadora ou satírica... Acredito que cada conteúdo instintivamente busca sua forma, assim como cada rio instintivamente busca outro rio ou o mar... querer controlar esse meandros os tornando mais ou menos tortuosos é matar a própria essência da coisa...

Amanhã recomeço...

Acho que está na hora de um pouco de franqueza da minha parte... Eu posso não ter gostado dela de cara, mas a verdade é que ela me cativou, com gestos, olhares, sorrisos... É... Com ela eu tive tudo, absolutamente TUDO que eu sempre sonhei um dia... Ela me ensinou a andar de patins, viajamos juntas, ela me apresentou para família, dormíamos de conchinha, jogávamos vídeo game, jantávamos fora... Ela me ajudou a pintar o meu quarto, fez curso de pintura comigo... De certa forma, ela abriu mão da vida dela por mim... Ela me adorava, e aguentou cada coisa, que eu, honestamente, não aguentaria (tanto não aguentaria que não aguentei)...

Mas, tem um ditado popular de diz que só damos valor às coisas depois que perdemos... E comigo não foi diferente... Não que eu tenha sido a pior namorada do mundo, mas eu tive que perdê-la para perceber o quanto ela me importava, o quanto eu a amava e o quanto tudo que vivemos foi especial... O como eu sentia falta do cheiro, do beijo, do carinho, do sexo, da atenção, dos mimos, de tudo... Mas... Eu percebi tarde demais, e quando tentei voltar atrás, tentei da pior maneira possível...

Eu fiz tudo errado... Depois que terminamos, para chamar a atenção, fiquei com a outra ex namorada dela, fiquei com a Ana e como ela me fez prometer que não importava o que acontecesse, não era para eu jamais voltar a ficar com a Ana, porque se eu fizesse isso, era melhor esquecer que ela existia...

Eu não soube lidar... Eu tive tudo que sempre desejei, e simplesmente tive que destruir tudo... E quando eu destruí eu cai, e depois que eu cai, eu não consegui mais me levantar...

A verdade é que agora eu estou cheia de dívidas, sem emprego, prestes a pela primeira vez na vida bombar em quase todas as matérias da faculdade, simplesmente porque não me preocupei em ler se quer um texto ou fazer se quer um trabalho... Estou perdida... E... Não sei... eu fui tão hipócrita no meio do caminho...

Porque no meio do caminho tinha uma Graziela, tinha uma Graziela no meio do caminho... E é impressionante o quanto ela é parecida comigo, apesar de ser tão diferente... Tivemos histórias de vida e dores muito diferentes... Temos um gosto às vezes bem parecido, outras vezes, nem tanto... Mas nossas personalidades... Ahhhh, nossas personalidades são assustadoramente iguais... A mesma forma de lidar com aquilo que acontece...

Não sei muito bem porque me deixei envolver com ela... Talvez por redenção de Karma... Talvez por compaixão... Talvez por carência, solidão... Talvez por desespero... Mas talvez... Talvez eu a tenha amado... Sim... Eu a amei... De alguma forma...

Eu reconhecia nela meus dilemas, e meus conflitos... Mas a verdade é que nunca tinha me perdoado por tudo que tinha feito com a Denise... E, pra falar a verdade, hoje eu acho que estou mais longe do que nunca de me perdoar... Mas de certa forma, a Denise mudou minha vida quando eu era uma menina perdida, e eu quis mudar a vida da Graziela... Eu quis estar do outro lado... Eu aprendi a amar aquela garota que era tão fora de todos os meus padrões... Aprendi a me importar, e a querer... Mas... cada um tem a sua história, e eu cometi alguns erros fatais:

1- Eu me esqueci que ela não era eu... Por mais que pudesse se parecer comigo, ela não era eu, e quem disse que ela queria “ser salva”? E mesmo que ela quisesse, quem poderia garantir que aquilo que eu oferecia era de fato o que para ela seria a redenção?
2- Eu não sou a Denise... Tudo bem que hoje ela é uma desconhecida para mim, mas aquela garota que eu namorei era gentil, paciente, amorosa, altruísta, bondosa, meiga, pura... Não... Eu quis consertar tudo ao MEU modo e na base da porrada... No meu tempo, do meu jeito... A Denise olhava para mim e via o que eu precisava... Eu olhava para a Grazi e via o que eu precisava...

É... Talvez gente como eu não sirva para ter um relacionamento... Eu queria dar para ela tudo que eu precisei e idealizei um dia... Eu quis dar para ela todo o amor que eu sonhei receber... E mais do que isso... Eu sabia que ela quebraria meu coração, porque ela não estava pronta, mas acima de tudo era isso que eu queria! É estranho... Mas acho que tudo que eu quis nessas 3 semanas foi ser a Denise, sofrer como ela sofreu, ser negada como ela foi negada, ser negligenciada como eu a negligenciei!

Pensei que talvez depois disso eu poderia me sentir aliviada, mas não me sinto... Só me sinto um monstro ainda maior por tudo que fiz... Foi bem emblemático, porque uma vez a Dê me amarrou numa cadeira e fez o strip mais sensual do mundo para mim, e quando ela me desamarrou eu disse “linda lingerie, amor, mas estou com sono, podemos fazer isso depois?”... Ah sim! Como eu fui escrota... ai um dia, eu para a Grazi, fui, e tentei fazer um strip e ela disse “Para de besteira, estou querendo ver o jogo”...

Durou só 3 semanas... Mas ela nunca quis... Nunca quis nada! Nunca quis dizer que me amava, nunca me elogiava, nunca me olhava nos olhos, nunca queria me beijar, nunca quis me tocar... Porque o coração dela saltitava por outra...

Então é tão inevitável lembrar do meu último mês de namoro... Fiquei exatamente 3 semanas mal olhando na cara da minha namorada... Namorada que eu amava, sabia que amava... Mas... ahhhhh... A Ana! Era a Ana que me fazia ter borboletas no estômago... Mas as borboletas no seu estômago não demoraram a serem mortas pelo ácido gástrico... E perdi a única pessoa que realmente me amou na vida por ser uma porca, estúpida, egoísta e imediatista!

Eu fiz com a Denise exatamente o que a Graziela fez comigo... O irônico disso tudo? Não me sinto nem um pouco melhor pelo que fiz... Aliás, me sinto duplamente pior... Primeiramente porque agora tenho as reais dimensões das minhas atitudes, e porque eu não soube novamente ter um namoro... eu quis me transformar na Denise e namorar a Camila... Eu não soube se a Camila e namorar a Graziela... Não foi o meu melhor que eu dei, foi e melhor de outra pessoa... E um melhor corrompido pelos meus desejos de auto-purgação...

Tão hipócrita eu ficar brava pelo que ela fez comigo com relação à Dani... E quando eu estava de viagem marcada com a Dê, disse que só iria comprar uma mala, me encontrei com a Ana, e passei a tarde toda com ela... E tiramos fotos românticas, e paguei o almoço, e andamos de mãos dadas no largo de Osasco, coisa que eu nunca fazia com a Denise, porque alegava ter medo da minha família ver... E eu pedi a Ana em namoro quando namorava a Denise!

Como eu posso ser tão hipócrita? É... Talvez esse negócio de relacionamento não seja mesmo para mim... Mas pelo menos de tudo isso eu aprendi que nunca, sob hipótese nenhuma devemos brincar com o coração daquele que nos amam... O mundo da voltas... Voltas... Voltas... e esse eterno retorno está começando a me deixar enjoada...

Utopia

“Utopia tem como significado mais comum a idéia de civilização ideal, imaginária, fantástica. Pode referir-se a uma cidade ou a um mundo, sendo possível tanto no futuro, quanto no presente, porém em um paralelo. A palavra foi cunhada a partir dos radicais gregos οὐ, "não" e τόπος, "lugar", portanto, o "não-lugar" ou "lugar que não existe".”

É engraçado o como eu posso viver em todo o lugar e em lugar nenhum ao mesmo tempo... Minha família me chama de rebelde e diz que eu prefiro meus amigos... Meus amigos me chamam de moralista e dizem que não consigo soltar da minha família. E nem sou uma pessoa em cima do muro, muito pelo contrário. Eu tomo partido, defendo posições, luto pelo que eu acredito... Talvez meu “problema” seja que eu problematizo tudo... Então todo mundo que vem com uma moral fácil demais me incomoda... E por questionar tanto a todos, todos se sentem incomodados ao meu lado...

Sou como todos: uma criança medrosa e assustada... Eu só queria amor, carinho atenção. Tenho que admitir que não cultivo isto da melhor maneira possível... Meu medo da solidão faz com que eu me sujeite a cada coisa... Mas o que é pior? Ficar sozinho ou se fingir de idiota? Acho que o pior é ficar sozinho, e tento me fazer de idiota, mas não consigo... Queria ser mais burra, me contentar com menos... “Se eu casasse com a filha da minha lavadeira. Talvez fosse feliz” (Álvaro de Campos). Mas eu não pude... Não pude ignorar minha falta de ignorância...

Novamente perdida... Minha Utopia nunca será boa... Porque não importa quão bom e quão nobre sejam seus ideais utópicos... Eles não existem... Eu não sou, não estou, não vou...

Ela me diz que consegue dormir em paz, pois nunca desejou mal para ninguém... Então eu penso: um erro cometido por acidente te isenta da culpa? Acho que no caso dela não, pois não foi um acidente... Foi mais como se ela tivesse dado um tiro por “acidente” em alguém, e se desculpado dizendo “mas eu não tive a intenção...” então a pergunta que eu faço é simples: se ela não queria machucar ninguém, por que tinha uma arma? Por que esta arma estava carregada? Por que ela estava brincando com uma arma carregada? E por que ela estava fazendo isto num lugar onde se a arma disparasse ela sabia que poderia ferir alguém? Será que foi mesmo uma atitude tão inocente?

Você tromba com alguém no metro, e machuca essa pessoa... Isso já é um acidente mais acidental. Mas ainda sim... você precisava estar correndo? Você podia prestar mais atenção?

Enfim... Talvez eu seja mesmo uma moralista... Mas acho que qualquer erro que cometemos é sim nossa culpa, pois mesmo a ignorância é um fardo que se carrega... Então como poderia eu tentar me eximir da responsabilidade de ter me relacionado com alguém mesmo tento plena consciência que essa pessoa só serviria para me destruir? No final das contas, a responsabilidade foi mais minha do que de ninguém...

domingo, 19 de junho de 2011

Fragmentos de conversas...

-Sabe, Camila, quando a Dani sai a noite eu sinto raiva... Quando você sai a noite eu me sinto triste...
-eu sempre soube que era sua filha favorita...
Ela apenas sorriu...

(...)

-Mas eu me sinto tão inútil... Nem pra telemarketing eu presto mais...
-Eu acho que você devia tentar um negócio próprio... Você não nasceu para ser mandada...

(...)

-E você desconta toda a sua frustração em mim!
-Eu só não quero ser vista como um projeto que deu errado!
-Mas você não é um projeto que deu errado!
-MAS É ASSIM QUE VOCÊ ME TRATA!
-PORQUE VOCÊ SEMPRE FAZ QUESTÃO DE MOSTRAR TUDO QUE VOCÊ NÃO É!
-E no que você errou?
-Afeto, Camila... Você precisa aprender sobre afeto... é isso que te falta...

sábado, 18 de junho de 2011

Quintessência do Ser...

Fui tomar banho, como sempre no frio, levei minha roupa para o banheiro para me trocar lá, pois ele fica quente devido ao vapor. No meio do banho percebo que esqueci a toalha, ninguém em casa para poder trazê-la para mim. Saio do banho, com o corpo quente e ainda escorrendo água quente, nua, e vou com a cara e coragem para o meu quarto, que estava com a janela aberta, pois estou queimando um incenso. E de repente no choque, entre o quente e o frio. O fogo, a água, o ar e a terra... Por um segundo eu alcancei a Quintessência do Ser, e pude sentir a vida pulsar dentro de mim.... A Gardência...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Cantiga de amor

adaptação grotesca da "Trova do reencontro" que tinha sido feita de forma mais livre e modernizada... Afinal, isso é um trabalho escolar... E cada vez mais acho que a métrica, bem como os dogmas, matam a essência da coisa...

Cantiga de amor

Estava as margens do Tejo
Uma linda moça a cortejar
Julgava conhecer o Amor
Mas era o Cupido a me flechar

Surgiste então mia Senhor
Ouvi o som de tua voz a saudar
Caro amigo que no Tejo
Estava comigo a cortejar

Rei, p’ra ti me fiz vassalo
Livre, me fiz teu escravo
Prisioneiro desta prisão
Amor, única libertação



Divisão métrica

Es/ta/va as /mar/gens/ do /Te/jo A
Uma /lin/da/ mo/ça a /cor/te/jar B
Jul/ga/va/ co/nhe/cer/ o A/mor C
Mas /era o/ Cu/pi/do a/ me/ fle/char B

Sur/gis/te/ en/tão/ mia/ Se/nhor C
Ou/vi o /som/ de/ tua/ voz a/ sau/dar B
Ca/ro a/mi/go /que/ no/ Te/jo A
Es/ta/va/ co/mi/go a/ cor/te/jar B

Rei,/ p’ra/ ti/ me/ fiz/ va/ssa/lo E
Li/vre/, me/ fiz/ teu/ es/cra/vo E
Pri/sio/nei/ro/ de/sta/ pri/são D
A/mor, ú/ni/ca/ li/ber/ta/ção D


Reflexões Sobre o amor

A Camila Strongren é uma ilusão constituída por padrões sociais, pela família, por padrões culturais, pela genética, pelo clima, pela História, pelos amigos, pela mídia... Eu penso que sou algo... E se penso logo existo como o ser que pensei ser... Mas ainda sim, ele é uma mentira... E essa mentira que constitui o que eu penso que sou, me afasta do que eu realmente sou e do que realmente importa. Ela me importa, então, não vou pensar duas vezes em jogar tudo isso no lixo por ela.

Está a conclusão de uma longa e proveitosa noite (proveitosa, apesar de dolorosa, diga-se de passagem). Preferi começar pelo fim por dois motivos:
1- O texto será gigante, então que não quiser ler, pode parar por aqui, pois já sabe a conclusão
2- É MUITO mais divertido começar pelo fim

Ressalvas feitas, vamos começar a longa história...

Era para ser uma noite normal. Depois de uma noite perfeita, no qual eu me casei na espontaneidade dos meus sentimentos mais puros. O ônibus demorou demais, peguei outro, por isso fiz outro caminho. Deveria ter ido para o IEB direto, mas todos sabem que às vezes uma simples escolha pode mudar todo o rumo de sua vida, e na noite que passou, muitas escolhas decisivas foram feitas.

Entrei pelo portão 2 da USP, eu iria esperar o Circular 1, para ir direto para o IEB, mas o circular 2 estava passando, corri e resolvi pegar, descer na FFLCH e ir a pé. Ao descer, reparei no Eric na beira no precipício (muito hermenêutica essa passagem), não resisti a me juntar a ele. Mas meu plano era apenas dizer olá e ir para a aula, pois eu tinha planos para o dia seguinte. Quando ele disse que os planos não poderiam se concretizar e me chamou para a Quinta e Breja, resolvi aceitar, e assistir aula no dia seguinte.

Liguei para a Grazi para avisar sobre a mudança de planos, perguntei onde ela estava. Ela deveria ter se encontrado com um tal de Gustavo, mas foi franca, me avisou que ele desmarcou e que ela estava na Vila Madalena com a Thaís e a Kikka. Motivo para problemas? Nenhum, mas ás vezes nosso egoísmo age de forma misteriosa...

Ela perguntou por que não avisei antes que iria para a Quinta e Breja e ela teria colado por lá. Pedi para ela vir. Ela disse que não podia, e eu podia ter aceitado. Mas estava irritada. Ciumenta. Com ciúmes do que? Não sei! Mas Por quê? E várias perguntas começaram a surgir... “Por que ela não quer fazer sexo comigo? Será que ela não se sente atraída?”, “Por que ela não quis dançar ontem? Não custava nada! Será que ela não pode abrir mão de algo sem importância para me fazer um pouco feliz?”, “Por que ela não pode vir pra cá? Ela prefere ficar com elas do que comigo? Será que ela não pode fazer pelo menos um pouco de esforço? Ahhh! Claro que seria trabalhoso, mas será que eu não importo mais que isso tudo?”. Insisti. Ela negou. Me incomodava a constante negação. Sim, eu estava com o orgulho ferido.

Mas meu último namoro me ensinou sobre certos comportamentos. Então eu deveria engolir a mágoa, dizer que estava tudo bem, evitar o conflito. Era o plano, mas eu não estava sozinha. Então o Eric começou a provocar e ele sabe fazer isso como ninguém. Falou várias coisas. Entre elas que eu não deveria reprimir minha vontade, e que eu não podia esperar que ela amasse alguém que eu estava fingindo ser, então se eu era uma louca ciumenta, eu deveria agir como tal. Foram bons argumentos. Cedi.

Numa coisa ele estava certo, ela realmente me achou uma louca ciumenta. Brigamos. Pedi um tempo. Não sabia se podia lidar com essas atitudes dela. Estava magoada, mas cheia de razão. Ele quis ligar para ela, disse que não queria estar perto, então, não sei o que houve na ligação. Mas com um pouco de dor perguntei “acabou mesmo, ?”, “sim, mas não se preocupe, ela nunca foi nem nunca será mulher para você”. Deus sabe como o Eric me irrita algumas vezes. Eu queria ir para aula, mas ele disse “Camila, relacionamentos não são para pessoas como nós. Nós somos pessoas excepcionais, e nunca encontraremos parelha a altura. Então ou você vai na Quinta e Breja comigo e pega todas as minas que você puder pegar, ou vira uma dona de casa e se isola do mundo, por é um crime ser tão linda e se fechar em algo”...

Ahhhh... A adulação... Mais um momento decisivo, e minha resposta “É... tem razão... Vamos para a Quinta e Breja, como nos velhos tempos... Vamos ver quantas eu consigo pegar!”
Mas foi engraçado, pois no caminho ele estava tentando me convencer que aquele era meu destino: pega mais não se apega, e eu disse “então eu poderia ser mais apta nisso”, a resposta foi “Mas essa é a questão. Nunca temos aptidão para aquilo que é o nosso destino, mas fazemos mesmo assim, o que prova o amor que temos por aquilo, e por isso funciona”...

Supostamente isso deveria me fazer acreditar que eu deveria me tornar o Dom Juan de saias, mas fiquei alguns minutos pensando e por fim respondi “Então talvez o meu real desafio seja fazer o Amor dar certo...”, a resposta dele foi curta “talvez...”

Achei muitas garotas bonitas. Mas não me sentia motivada a me aproximar... Passei por alguém que tinha o mesmo perfume que ela, e doeu... Encontramos um grupo de amigos do Eric, estavam cantando, cheguei na parte que eles estavam recitando exatamente estes versos: “Vou te contar / Os olhos já não podem ver / Coisas que só o coração pode entender / Fundamental é mesmo o amor / É impossível ser feliz sozinho //
O resto é mar / É tudo que eu não sei contar / São coisas lindas /
Que eu tenho pra te dar / Vem de mansinho a brisa e me diz / É impossível ser feliz sozinho”

Tive vontade de chorar, mas não chorei... Mas me senti sozinha, mesmo no meio de um monte de gente. Sim, eu poderia pegar quantas garotas eu quisesse, mas eu não queria, sabia que isso não iria me satisfazer. Falei para o Eric que não queria nada daquilo, ele manteve sua postura “Relaxa, Camila! Já disse, você é boa demais para ela...”, depois de tantas vezes ouvindo isso sem questionar (pois o discurso não vinha de agora), finalmente respondi “Então talvez eu não queria ser tão boa assim!”, “Mas é impossível, você não pode voltar atrás... Aproveite o rolê... Você é boa demais para ela...”

Me isolei num canto... Ficava pensando sobre possíveis saídas, mas cada vez me sentia mais presa nesse labirinto... Não conseguia confiar nela... Mas ficar agindo como uma louca ciumenta só nos afastaria. Mas não queria abrir mão... Afinal, eu não estava errada! Estava? Essa aporia me lembrou o conto de Borges “Labirinto dos caminhos que se bifurcam”. Me agachei, pois estava num chão de terra, e com o dedo indicador desenhei no chão uma linha reta, que depois de dividia fazendo dois caminhos. Olhei para meu pequeno caminho que se bifurcava, me observei naquela escolha, sem saber que decisão tomar. E ao observar meu desenho no chão, reparei que logo ao lado do caminho da direita, há menos de 2 centímetros de distância, tinha o desenho de um coração, que não era eu quem tinha feito, e eu tinha quase certeza que não estava lá antes.

Fiquei com medo de estar ficando louca, chamei o Eric, mostrei, ele também viu, e riu...
Lembrei de Raul Seixas “São tantos caminhos tantas portas, mas somente um tem coração”.
Perguntei ao Eric se ele estava com o tarot, ele respondeu que sim. Pedi uma leitura, ele aceitou. Quando estava embaralhando, pensei que não queria só saber o destino, mas a escolha. Nesse momento ele me pergunta se vou querer o método da Cruz Celta (que só mostra o caminho do destino) ou o Golden Dawn (quem aponta os caminhos e as opções). Escolhi o segundo.
Foi interessante. Para quem não conhece o método, as 3 cartas do meio são a questão. E a divisão direita esquerda aponta sobre o Carma e o Dahrma, sendo o caminho da direita o caminho do Dahrma, ou seja, o caminho da verdade. E para ironia completa, a carta que marcava a escolha da direita, da verdade, do Dahrma, era nada mais nada menos, o Ás de copas, o coração.

Não quero falar muito sobre o jogo, mas basicamente ele apontou que não importava a escolha, no final, eu chegaria ao mesmo lugar (sem dizer que lugar era esse), mas eu poderia seguir o caminho do amor, ou o caminho da birra. Mas mesmo que eu escolhesse o amor, o preço a pagar seria a ciclicidade dos acontecimentos. Eu não teria uma vida perfeita, amor e dor se alternariam.
Acho que a resposta óbvia seria escolher o caminho do Amor, foi o que eu sempre pensei que faria nessa circunstância. Tentei mandar uma mensagem para a Grazi, agir amorosamente, mas olhando de fora, parece que minha mensagem tinha mais birra do que qualquer coisa.

Novamente, eu simplesmente estava sendo arrastada pelo meu destino.

O Eric continuava querendo me convencer que era o melhor. Afinal, melhor acabar de uma vez, e evitar a dor. Mas aquilo não me convencia, me incomodava, mas nem eu sabia por que... Aparentemente só haviam dois caminhos: ou eu continuava sendo quem eu era, e com isso afastaria ela de mim; ou eu mudava quem eu era, perdendo assim meu brilho, e com isso ela se afastaria. Aparentemente o fim era inevitável...

Ele me chamou para dar uma volta, preferi, queria silêncio para pensar... Fomos caminhando em direção à Praça do Relógio, mais especificamente, ao lugar no qual eu tinha me casado com ela há pouco mais de 24 horas...

Minha cabeça estava um turbilhão... Ele continuava com aquele discurso que era melhor eu desbodear. Afinal, eu nunca a tinha amado mesmo. ELA NÃO ERA BOA O SUFICIENTE PARA MIM. E só o que eu conseguia repetir como resposta era “bom, talvez eu possa mudar...”
É incrível perceber como você fica por horas vislumbrando algo, sem conseguir enxergar aquilo que está bem diante de você... E incrivelmente ele estava quase me convencendo disso tudo... Acho que cheguei a dizer algo próximo a “Bem... De fato, talvez o que eu sinta por ela seja meramente físico, então, já que quando amei pessoas de forma metafísica nunca consegui concretizar o desejo físico, pensei que fazendo o caminho contrário pudesse vir a amar”... Era estranho ouvir essas palavras saindo da minha boca, mas tudo era muito estranho...

Ele dizia que uma hora eu poderia encontrar alguém, mas que a Graziela definitivamente não era essa pessoa... Chegamos ao altar do nosso casamento... Meu Deus! Como eu podia ter desistido tão rápido? Continuamos conversando... Analisei a questão de todos os pontos de vista, até chegar ao absurdo de dizer “vamos avaliar os prós e contras de ficar com ela”... Sim, quando essas palavras saíram da minha boca, eu senti nojo de mim mesma. Interrompi o raciocínio...
Parei de tentar entender a Grazi... Tentei começar ver o que realmente me incomodava... Comecei pela superfície “Bem, todas as minhas namoradas eram mentirosas, fingiam ser quem eu gostaria que elas fossem, para evitar atrito, e isso terminou mal. A Grazi não aceitou fingir, e isso me incomoda... Talvez todo mundo esteja certo, e eu nunca vá encontrar alguém que seja bom o suficiente para mim...”, “você não é o boa o suficiente para você mesma...”

Comecei a assumir... Assumir que talvez o que eu esperasse dela fosse admiração e não Amor... Mas o amor poderia se construir com o tempo certo? Então comecei a avaliar se poderia construir um amor, se sim, se valia a pena, e se sim, como. Eu capitalizei meu amor, minha vida, minha alma. Acho que nunca presenciei uma escuridão de alma mais profunda do que aquela minha.

Perguntei para o Eric o que fazer, ele me disse pra ligar para ela, me desculpar e me passou o roteiro. Segui. Não fui honesta. Ela percebeu. Talvez não num nível consciente, mas percebeu. Aquilo foi comodismo não Amor.

Me irritei, eu disse que eu estava errada, ela disse “eu sei, mas no problem”, como ela podia realmente achar que eu estava errada?

Olhei para o Eric, antes ele tinha dito que me ajudaria com o “como” se eu quisesse mesmo amar a Grazi, perguntei “como?”. Ele só disse “Amar alguém é saber que não existe no mundo ninguém melhor do que essa pessoa”. Escutei, não ouvi.

Estava irritada, pensando nos prós e contras. Mas será que valia mesmo a pena? Ela não era boa o suficiente para mim... Foi o que ele sempre me disse, não é? Se aquilo estava tão fadado ao fracasso... Quis desistir. Mas por que não podia? Não sabia a resposta. Mas quis mais uma vez, procurar dentro da minha mente um motivo para ficar.

Por fim disse “Bom, o amor ele te eleva, então mesmo que dê errado, se eu aprender a amar a Grazi, bem... Cresceremos juntas”, “Mas você não acha nojento querer amar alguém visando o crescimento pessoal? Não é igualmente nojento do que querer amar alguém pelo patrimônio material da pessoa?”, “Mas isso seria um bem...”, “Mas seria amor?”... “Não... Não seria...”
“Desiste, não há saída”... Foi a segunda frase mais repetida da noite... Mas se não havia saída, por que eu insistia tanto? Seria mesmo mera birra? Não! Eu não podia desistir!

Conversei mais um pouco sobre as atitudes dela, falando sobre a ligação... O Eric novamente mudou o foco, disse que eu era boa demais para ela... Quando pensei que meu nível de escrotidão tinha chegado no nível máximo, fui surpreendida com minha boca pronunciando “o pior nem é ser boa demais para ela! O Pior é ela ser uma ingrata que não sabe nem ao menos apreciar isso...”... Nessa hora ele só me olhou e disse “Amar alguém é saber que não existe no mundo ninguém melhor do que essa pessoa...”

Finalmente, entendi. Entrei em choque. Senti nojo de mim mesma...

Minha alma conseguiu o mínimo de quietude. Pensei. Por fim, disse:

- Se eu quiser amar a Grazi, só há um caminho... Simplesmente amar!
- Sim, mas ao pronunciar isso, tudo isso que você acabou de racionalizar o amor, portanto, é impossível simplesmente amar... Acabou... Não tem saída...
Fiquei quieta um instante... Por uma fração de segundo me pareceu que ele estava certo. Mas finalmente esse sabe-se lá o que que estava obscurencedo minha mente se dissipou e eu respondi com mais convicção do que nunca antes:
- Não! Você está errado!
- An?
- É... Você está errado... Casamos num eclipse...
- Sim, o Sol e a Lua, mas a terra estava no meio...
- É... Mas ela não ficará no meio para sempre... Isso foi se fechando até chegar no ápice da escuridão, mas agora a Lua começa a se libertar, e eu consigo ver... Minha inteligência... Bem, minha inteligência vai morrer junto comigo... minha beleza, bem.. essa nem vai ter que esperar minha morte para me abandonar! Minha esperteza, minha história, meus conceitos... Tudo, tudo ilusão... Nada disso importa! Além disso, quem criou os critérios para julgar quem é melhor que quem? Não! Não me importa nada disso! Não! Nada mais importa! É tudo bobagem, e vaidade... Eu simplesmente amo... Amo essa que nesta vida se chama Graziela Natasha Massonetto... Amo, e simplesmente amo! Sem explicação... Eu a amei desde que ouvi o som da sua voz dizendo um simples “hey!”... A amei sem conhecer seu rosto, saber suas idéias, suas história, mal sabia sua voz... Não sabia nem o nome... Mas sim, a amei desde este momento sem saber que amava! A amei quando ela estava distante. A amei antes mesmo de a conhecer... Pois sempre foi ela a pessoa sem rosto, sem nome, sem identidade que eu sempre soube que amava... A amo mesmo quando odeio, mesmo quando não amo, mesmo quando está distante... E eu estou simplesmente cansada desses jogos... De querer mostrar quem eu não sou! Esse jogo nojento de poder. De querer mostram que manda... E achar que o outro deve se submeter a sua vontade... De ter ciumes por querer provar que o outro é sua propriedade... Mas você quer saber? Pouco importa o que você diz, porque eu vou continuar amando a Graziela mesmo que ela me “traia” com o mundo todo, e mesmo que ela cheire até o nariz dela explodir, e mesmo que ela faça qualquer coisa... Pois foi ela que eu amei desde antes dela existir... E não me importa mais se ela me ama de volta... Não importa mais nada... Só o amor importa, e mais nada...
Então numa atitude bizarra, ele me olhou, me aplaudiu e disse “finalmente, pensei que você nunca ia entender...”


p.s.: ironicamente, acabei de reparar, esta é a postagem número 213, mesmo número do ônibus que passar próximo da minha casa e me levaria até a casa dela...

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Trova do reencontro

Estava eu as margens do Tejo
Uma linda moça a cortejar
Julgava conhecer sobre o Amor
Mas só sabia do Cupido a me flechar

Surgiste então Senhora
Só ouvi o som de tua voz a saudar
Um caro amigo meu
No Tejo estava comigo a cortejar

Te amei. Sem ver teu rosto
Sem saber teu nome
Tua origem ou beleza
Te amei sem saber que amava

Rei, para ti me faço vassalo
Homem livre, me faço teu escravo
Prisioneiro dessa dulcíssima prisão
Amor, única forma de liberdade

Nada mais espero que te amar
Te amei na distância, no erro
No ódio, e mesmo quando não te amava
Te amei antes mesmo
De seres gerada no ventre de tua mãe