Acho que durante minhas crises depressivas desencadeadas por alguma desilusão amorosa, as pessoas devem me achar mais louca do que de fato eu sou. Talvez fique a impressão de que estou sendo excessivamente dramática e fazendo tempestade em copo d'água. Afinal, nenhuma garota merece que eu me destrua assim.
O problema é que ao me julgar, as pessoas partem de seus próprios pressupostos. Elas estão tão condicionadas a uma cultura "romântica", que acreditam que aquela pessoa é a responsável por quebrar meu coração e levar todos meus planos pro bueiro, junto com as minhas motivações.
Mas essa idealização do amor romântico que quando não concretizado devasta a vida do amador é uma projeção delas sobre mim, porque eu sei que não é nada disso. Não vou mentir e dizer que sempre soube disso, mas quando se convive com crise extremamente problemáticas durante muitos anos, você para de procurar culpados e busca razões muito mais complexas, e não falo mais em culpa, e sim em "gatilhos".
E não posso culpar ninguém pelas minhas crises, nem mesmo meu pai que me abandonou e me entregou de bandeja para um predador, nem meus estupradores, nem meus familiares com história crônico de abuso... E se não culpo esse monstros, lógico que não culparia uma pessoa adorável cujo o único "pecado" teria sido não me querer como eu a queria.
Claro que as atitudes alheias me afetam diretamente, mas muitas pessoas passam por experiência parecidas, algumas até piores e lidam com isso de outra forma. Não estou dizendo que haja um jeito certo ou errado de lidar com seus fantasmas, mas sem dúvidas eu tenho uma predisposição para depressão, e mesmo que tivesse sido só fatores ambientais que a causaram, com certeza não foi um fato isolado e muito menos a culpa de uma pessoa só. E também não foi minha culpa! Sei que faço minhas escolhas, e que elas igualmente me afetam, mas repito: é uma confluência de fatos.
E decidi admitir que lidar com isso está além das minhas forças, porque quando se trata de alguma debilidade mental, seja a nível físico, psicológico ou psiquiátrico, as pessoas tendem muito a culpar o doente. É basicamente a mesma lógica do estupro: se você está sofrendo com isso, de alguma forma a culpa é sua. Mas ninguém em sã consciência poderia escolher viver nesse eterno mal estar.
Não se trata de querer, ou não se esforçar o bastante para mudar as coisas. Se alguém é diagnosticado como diabetes, óbvio que a pessoa vai mudar a alimentação, e óbvio que algumas escolhas alimentares ao longo de sua vida colaboraram com o quadro, mas ninguém questiona que de fato há uma predisposição genética, influência de outros fatores ambientais, e a necessidade de uma tratamento para controlar a doença por quanto tempo for necessário. Mas quando se trata de depressão, bipolaridade, esquizofrenia, etc, etc, etc a lógica não é a mesma. Parece que querer procurar ajuda te dá um estigma ainda maior.
E eu to cansada das pessoas dizendo que não devo procurar ajuda porque tenho que encontrar forças dentro de mim, porque não é tão grave assim, eu que gosto de me fazer de vítima, que basta eu querer mudar que tudo melhora, que isso vai matar minha criatividade, o que é uma pena já que tenho tanto talento...
E parece que ninguém liga pra mim ou pro meu bem estar. Ninguém liga que se todo os dias quando eu acordo a primeira coisa que eu penso é "Meu Zeus, como seria bom estar morta", isso não é uma mera falta de boa vontade. E também não adianta querer me reduzir as suas experiência pessoais! Isso é diminuir minha vivência, meu esforço e até mesmo minha individualidade.
Enfim, mas o que queria dizer nesse post é que mesmo nas crises, sempre me resta uma ponta de racionalidade, e que se serve para alguma coisa, quero deixar nos registros que não tenho mágoa da Karina, e nem acho que ela seja a causa dos meus problema (coitada, caiu de para-quedas no meio da minha loucura), e que sei que não foi por mal, mas ela simplesmente acionou certos gatilhos meus, o que, diga-se de passagem, não foi muito difícil, já que já faz muito tempo que estou numa "fase" terrível.
Espero que as coisas se ajustem, e que as crises parem, e que eu possa amadurecer de fato, porque poderei usar tudo que venho aprendido ao longo desse anos sem colocar tudo a baixo porque de repetente por uma semana eu decidi não sair do meu quarto e na semana seguinte eu resolvi ofender todo mundo ao meu redor, e em seguida me trancar novamente no quarto e ficar me auto-mutilando...
É uma verdadeira merda me esforçar tanto para dar um mísero passo para frente, e quando vem a crise, me sinto dando 5 passos para trás. Me sinto naquela música da dona aranha, que nunca chega a lugar nenhum, porque não importa o quanto ela se esforce em subir, vem a chuva forte e lá está ela de volta a estaca zero, mas a gente sempre recomeça, né?
Não acho que terei uma vida perfeita, e sei que haverão dias de chuva, só espero que esses dias não sejam mais capazes de destruir basicamente tudo que eu amo.
Espero um dia não ter que perder a amizade de alguém que amo tanto, só porque essa pessoa, num tropeço, disparou algum gatilho, e eu a atingi com tanta violência que sei que ela nunca mais voltará a querer olhar na minha cara...