domingo, 22 de maio de 2011

Eu desisto

Eu desisto!
Estou cansada de bater a cabeça na parede
Cansada de dar murro em ponta de faca
Por isso decidi
Vou ao psiquiatra, confessar minha loucura

Confessar que vi o Sol nascer
E me emocionei com isso
Confessar que olho as fases da Lua mudar
Confessar que me importo
Que tenho mais de uma opinião sobre cada assunto
E dizer que sinto o milagre
De cada rotação de átomo de Césio

Confessarei que não me enquadro
Que não tenho quadrados nem muros
Mas sei que há um preço que se paga por cada escolha
Inclusive pela escolha de fazer todas as escolhas
Direi que sou hipócrita
Intensa
Paradoxal

Falarei que amores, tive poucos
Mas paixões, tive todas!
E em todas que entreguei inteiramente
E sempre fui trocada
Por aqueles que se davam em conta-gotas

Gritarei que estou cansada!
Cansada de ajudar todo mundo
A encontrar o seu “feliz para sempre”
E sempre estar sozinha
Cansada de pessoas vazias
Cansada daqueles que desistem
Daqueles que não entendem
Mas principalmente
Daqueles que me colocam como nota de rodapé
E não percebem que eles são todo meu enredo

Cansada de mim e da minha vida
Cansada de ser lésbica e do preconceito
Cansada dessas bissexuais indecisas
Dessas que brincam com você só para ter um capacho
E dos seus namoradinhos perfeitos
Que são tão melhores que eu
Por nunca estarem cansados de nada

Por fim, pedirei um regulador de humor
Tomarei um remédio controlado para ter
Pensamentos controlados
Sentimentos controlados
Atitudes controladas
Uma vida controlada
Que por tanto controle, deixa de ser vida

Ai quem sabe um dia, racionalmente, eu diga
“Em algum momento te amei, e você não viu”
Mas que importará?
Afinal, um amor controlado não é nem nunca será
Amor.


Bem... quinta pessoa para qual eu dedico um poema... Acho que isso deve significar algo...

terça-feira, 10 de maio de 2011

Sonhos, sonhos...

Sonhar com ex já é uma delícia, e super combo dois em um?

Pois é, pois é... Sonho bizarro...

Não lembro muito bem, mas parece que eu morava na casa em frente a Denise, e eu ouvia ela gritando propositalmente falando mal de mim! E todo dia isso, eu tentando fingir que não estava nem ai e tentando mudar de assunto e ela esbanjando todo o seu desprezo...

Então, ela que morava numa mansão, decide dar uma festa, um baile, um jantar, não sei bem.... O caso é que ela me chama... Eu muito cordialmente aceito, e me sento ao lado de uma menina muito bonitinha, gostosinha, simpática, e puxo assunto... Quando pergunto o signo dela.... CAPRICÓRNIO! ¬¬'

Mas ok... Estávamos lá trocando ideia, decidimos dançar... De repente chega alguém, começa a me agarrar por traz... Me beijar... Quando eu viro para trás para ver quem é... A ALINE DA SOCIAIS! Tipo... WTF? O que a Aline estava fazendo no meu sonho? Eu fui apaixonadinha por ela tipo 2 semanas! Se bem que tem um detalhe interessante, porque fui justamente por gostar dela que eu fiz aquele me desenho do cálice e do fogo... Lembrando que ela era escorpiniana...

Mas ok... Estava cansada daquela putaria, e resolvi sair para tomar um ar... Fumar um cigarro talvez, não lembro bem... Ai me aparece... Lógico! Aparece que não podia falta: A PATRÍCIA! Ai ela veio conversar, toda gentil, toda carinhosa... E eu não querendo dar bola... Mas ela ficava me agarrando, passando a mão e infelizmente tenho que admitir que eu estava gostando =X

Seja como for, aquilo estava me deixando louca: uma capricorniana simpática? a Aline vindo atrás de mim? A Patrícia sendo gentil e querendo ficar comigo? A Denise uma sádica filha da puta que estava empenhada em me faz sofrer? Por um momento cogitei aquilo ser sonho... Mas ai pensei "Ahhh não... a Denise realmente virou uma sádica empenhada em me fazer sofrer... O resto deve ser verdade também..."

Seja como for, eu decidi sair daquele lugar, dar um rolé... Na augusta talvez... O problema é que a trupe foi atrás de mim... Quando estávamos no metrô, todo mundo já tinha passado o bilhete único, quando eu percebi que o meu estava descarregado e eu não tinha dinheiro, a Patrícia até quis pagar para mim, mas eu preferi voltar pra casa...

Chegando lá... A Denise estava na porta da casa dela... Decidi ir lá conversar... Eu queria perguntar o porque de tudo aquilo, perguntar porque ela me odiava tanto, entender, achar uma saída, perguntar para ela o que eu poderia fazer para tê-la de volta... Mas no meu sonho eu sou muito mais esperta que a vida real... E eu sabia que nada disso ia funcionar... Então eu cheguei encostando ela na parede, puxei o cabelo dela pra trás, cheguei bem perto do rosto dela e disse "me fode"

Ohh man! Ótimo sonho! Por que eu não tenho esses sonhos reveladores sempre? hauhauahauhauhauah

Brincadeira, lógico que não ia funcionar... Mas e a vontade de realizar o sonho depois que acordei?

Carta para a Denise que nunca foi enviada

Ai ai minha querida amiga, preciso da sua ajuda para tentar resolver esta questão! Vamos ver o que você me diz:

Eu me apaixonei perdidamente por uma garota... Ta! A história não começa assim! Seria melhor dizer, uma garota se apaixonou perdidamente por mim, mas definitivamente não foi recíproco, mas você sabe como eu sou... Carente... Solitária... Não foi muito difícil para ela ganhar minha atenção e confiança! (por que é sempre assim? Porque eu sempre deixo me envolver tão fácil?) E para uma pessoa como eu, uma forte amizade é quase amor... Mas eu tenho muito amigos, e nem sou apaixonada por todos eles... Porém, esta garota realmente estava empenhada em me ganhar a qualquer custo, então... Acho que isso colaborou...

Sabe o que é engraçado? Quando a gente se apaixona, parece que a pessoa muda diante dos nossos olhos... Simples assim... Alguém que antes era comum, ou até mesmo feio aos nossos olhos, de repente se torna lindo, atraente, sensual... Aquilo que antes era visto como defeito passa a ser visto como xodó!

Mas o que é mais incrível, é que quando nos sentimentos extremamente atraídos por alguém, parece que não conhecemos o impossível! Quando nossa vida é sem graça, e nossa mãe grita “hey! Hora de levantar!” você pensa “ahhh, mas isso é impossível”... Agora, quando amamos alguém, se essa pessoa diz “hey! Vamos até os Estados Unidos de bicicleta?” você pega a mochila, pega a bike e diz “Demorou!”, e simplesmente faz acontecer! Não importa quão absurdo ou impossível seja o pedido ou desejo da outra pessoa, você dá um jeito!

Enfim... Resumindo... Eu fiquei com essa mina... E um tempo depois a gente começou a namorar, mas tinha que ser em segredo por “n” motivos (você sabe como é complicado esse tipo de coisa)... Mas eu sou muito briguenta e estourada (você me conhece bem...), então a gente acabava discutindo por qualquer coisa... Ok... Discutir é eufemismo, a gente chegou a ter uns arranca-rabos feios, mas a gente se queria tanto, se desejava tanto que isso não era um problema... Aliás, NADA era um problema! Nem a distância, nem os outros compromissos, nem família, nem amigos, nem brigas, nem dinheiro... NADA! A gente simplesmente dava um jeito... Se a gente brigava, tentava arrumar uma saída, ou simplesmente se perdoava, se faltava dinheiro, a gente tentava fazer uns trambiques aqui e ali, se falta tempo a gente cabulava uma aula... Hahahaha!

É... A gente brigava muito... Eu e esta garota... Mas todas as brigas acabavam numa reconciliação deliciosa (se é que me entende...)

Mas não sei... Talvez eu lembre mais das brigas e do sexo, porque era quando a adrenalina estava a mil... Mas meu envolvimento com essa menina foi MUITO mais que isso... Havia lealdade, amizade, companheirismo, compreensão... Depois de uma decepção amorosa muito dura que eu tive (e você sabe do que estou falando), pensei que nunca mais conseguiria gostar de ninguém... Mas eu estava errada, e este sentimento acabou me surpreendendo... Talvez porque eu não esperasse muito dele... Sabe quando você entra em algo pensando que não vai durar... Então você não espera nada... Quando você pensa “Bem... Essa é a pessoa errada”, ai tudo que vem depois passa a ser uma agradável surpresa!
Ela me entendia! Ou pelo menos tentava me compreender... Ela me ouvia e se interessava pelo o que eu tinha para dizer... Ela cuidava de mim... Fazia eu me sentir tranqüila... Me sentir em casa... Me sentir em paz...

Eu posso estar errada, mas eu acho que a partir de determinado momento que não sei qual, toda essa mistura alquímica de sentimentos acabou virando amor da minha parte... Não esse amor falso que você diz “eu te amo” da boca pra fora, só para se sentir menos sozinha do mundo... Mas eu sentia algo que parecia me preencher completamente, com uma energia quente e acolhedora... Algo que envolvia completamente meu coração... Algo que parecia que tinha vindo para ficar...

Ai Dê... Ai minha amiga! Me diga! Me diga porque é tão fácil dizer “eu te amo” e tão difícil demonstrar de fato o que guardamos aqui dentro? Queria realmente poder te explicar como me senti diante desta garota... Mas palavras não dão conta de tal sentimento! Mas eu vou tentar... Para isso, vou te contar uma história...


Imagine que você nasceu com a vista embaçada... Uma miopia muito forte, mas muito forte mesmo! E mal conseguia distinguir as coisas... Você possuía uma leve idéia de como era o mundo ao seu redor, mas não enxergava nada claramente... Com isso você distinguia mais ou menos o que era bonito e do que era feio, mas tudo era muito mesclado, nada nítido... Mas ai por problemas da vida, sua vista foi piorando, piorando, piorando... Até que você ficou cega de vez! Então você simplesmente se acostumou com a escuridão... E foi se esquecendo da luz, e foi se esquecendo das cores, e foi se esquecendo da beleza...
Ai um belo dia, você conhece um médico sem querer, e você conversam, e você conta seu caso a ele, que diz “bem, não posso te garantir nada, mas sou oftalmologista, e posso dar uma olhada nos seus olhos...”, você não põe muita fé, mas afinal, o que há a perder, certo?
Então ele te examina, e descobre que há uma forma de reverter a cegueira, e o melhor! Sua visão ficará perfeita! Você continua duvidando, mas segue em frente... Então ele vai, te opera, e durante a recuperação, seus olhos têm que ficar vendados, a esta altura você já consegue perceber a luz, percebe que deu certo, e já está feliz, mas é só uma luz que se vê através de um véu... Mas na hora de tirar a venda, o médico que já se afeiçoou muito a você, te leva para uma cidade no interior, com uma linda paisagem, no alto de uma montanha, bem no horário do pôr-do-sol. Uma visão que já seria linda para qualquer um... Então ele vai e tira a venda... E você vê! Vê a maravilha! Vê a grandeza! Vê a beleza! Então você simplesmente fica estarrecida! Você tenta agradecer, mas não há palavras... E num primeiro momento você simplesmente fica ali, paralisada, contemplando a coisa mais linda que você já viu. Uma beleza que antes disso você não podia nem sonhar, embora já tivesse ouvido falar! Você quer agradecer! Você quer abraçar o médico, e chorar! E dar a sua vida em troca daquilo, porque... Você está completa! Preenchida! Feliz! Em pleno êxtase! Você quer chorar, você quer rir, você quer dançar, você quer pular de alegria, você quer simplesmente sentar e aproveitar cada momento... Porque parece que você tem o universo dentro da sua garganta, parece que fogos de artifício estão estourando dentro do seu peito... E você quer tudo!
Mas ai simplesmente você olha para a cara do médico, que te observa sorrindo... Então você sente medo... Aquilo é tão grande, tão especial, tão... ASSUSTADOR! Você simplesmente entra em pânico, e foge correndo! O medito tenta te segurar! Mas você se solta e sai correndo! Ele tenta saber o que aconteceu, e você é rude, você está simplesmente apavorada com algo tão imenso! E você corre, corre, corre até não poder mais! E corre tão rápido que nem percebe o caminho que trilhou... Então uma hora você cansa de correr, e pára pra descansar, e então percebe a besteira que você fez! Ai você deseja imensamente voltar, mas você percebe que está perdida... Você pede ajuda no vilarejo... Algumas pessoas são gentis com você, e tentam te ajudar a achar o caminho de volta, mas a maioria percebe que você está perdida, e tenta tirar proveito... Então você é roubada, usada, enganada, estuprada, chutada, espancada, pisoteada e você está só o caco... E você lembra do médico, e de todo o carinho e atenção dele em te curar, e lembra da sua ingratidão... Você começa a achar que mereceu passar por tudo que passou, desde a sua fuga... Afinal... Você tinha alguém que se importava, você viu a coisa mais linda do mundo você se sentia plena, feliz, completa, mas por alguma idiotice você teve medo e fugiu...
Mas por outro lado, você foi tão punida durante sua fuga! Você estava com fome, perdida, desesperada, esgotada, e tantas pessoas já tinham te feito mal! Além do pior: a própria culpa por ter fugido, que doía mais que qualquer outra dor! Então você lembra-se daquele lindo pôr-do-sol que seu médico te proporcionou ver, e então, você chora... Você chora por não ter aproveitado...
Mas depois para ter menos pena de si mesma você pensa “Bem... Mas o pôr-do-sol não teria durado pra sempre mesmo”, porém... Você não estaria onde estava se não tivesse fugido! Além disso, o sol podia ir embora, mas as estrelas apareceriam em seu lugar para iluminar, trazendo também uma bela visão... E depois de algum tempo o Sol voltaria em um belo amanhecer... E mesmo que tivesse um dia nublado, você sabia que o médico estaria lá ao seu lado, e que juntos vocês se lembrariam de todos os dias de sol e noites estreladas, e entenderiam que o Sol estava lá, só estava escondido por nuvens idiotas... Mas agora, apesar de já ter sua visão, e isso não poder ser tirado de você, você só é capaz de olhar seus próprios pés... E andar por ai esbarrando em todo mundo... Mas por algum milagre, já meio morta, você percebe que está de volta no exato lugar onde abandonou seu médico... E fica profundamente aliviada... Até que percebe que ele não está mais ali!
Sim! Você errou, mas você pagou tão caro por isso, e ele simplesmente entrou no carro conversível dele e foi embora e te deixou pra trás, e nem tentou te esperar... Você olha para o Céu, e vê uma noite profundamente escura. Nem a Lua, nem nenhuma estrela para iluminar... Está tudo tão escuro que você só vê vultos, e parece a época em que você quase não enxergava... E você sente medo de ficar cega de novo... E você se lembra do médico, e lembra-se do pôr-do-sol... E sente saudades, e chora e então grita seu nome, ouve um barulho, olha para trás pensando ser ele, mas não era ninguém, foi só uma ilusão...
E às vezes você o odeia! Afinal, para que te fazer ver, e te levar para o lugar mais bonito, se era para depois te deixar de novo quase cega, sozinha, perdida e derrotada? Por que ele te levou tão longe se era para depois te abandonar? E ai você o odeia! Mas então você lembra que você o abandonou primeiro, e passa a odiar a si mesma! Mas depois pensa que se ele se importasse de fato, teria te esperado pelo menos um pouco, e não fugido logo depois que você saiu correndo! Então você percebe que o odeia porque o ama profundamente... E percebe que se odeia por ter estragado tudo, e que adoraria se punir, então você percebe que TUDO que podia ter sido tirado já foi tirado! Que não há mais punição possível... Você tentou volta, mas ele não estava mais lá... E você percebe que sua vida só faz sentido junto dele... Que tudo que se passou antes foi uma sombra, e tudo que se passou depois foi um pesadelo... Então você entende que o único caminho é ir atrás dele, onde quer que ele esteja...
Mas você está fraca, e cansada... Percebe que precisa se recuperar primeiro... Acaba desmaiando de exaustão, mas uma alma caridosa te encontra, cuida de você, até você ficar bem... Quando você se sente forte de novo, arranja recursos e vai atrás do médico... É loucura, depois de tudo! Mas você sabe que simplesmente não há outro caminho... Você precisa ao menos tentar se desculpar por ter fugido... Mas você também quer gritar de ódio por ele não ter ido atrás de você! Ok! Você sabe que ele fez muito por ti antes daquele momento, mas para alguém que fez tanto, custava ter ido atrás? Afinal, o que você significava pra ele? Ou será que ele só queria provar a si mesmo que era capaz de curar seus olhos? Será que no final das contas você foi só um desafio? Mas para que se empenhar tanto? Ele poderia só ter te operado e ter ido embora como um bom amigo... Para que te mostrar toda a beleza e te fazer ter amor por ele se era para depois ir embora?
É um dia claro, embora um pouco nublado, você consegue enxergar bem... Mas a única coisa que seus olhos procuram é ele! E depois de muito procurar, você finalmente o encontra! E seu coração dispara... E você está se aproximando para falar com ele. Mas ele simplesmente te olha com um desprezo absoluto, nem se importa com tudo que você passou só para poder vê-lo mais uma vez!
Apesar do desprezo dele, você se aproxima, se joga nos pés dele, e implora desculpas, e diz que o ama! Mas neste momento, outra garota se aproxima, ele a olha e sorri, e enquanto você observa, eles simplesmente se abraçam e se beijam... E não há nada que você possa fazer! E você tenta gritar tudo que passou só para estar ali naquele momento, mas pouco importa! Afinal, ele não quer saber...
E você pensar “mas essa garota e ele não passaram tudo que nós passamos! Ela não o quer como eu o quero! Ela não passou por tudo que passei para estar aqui!”, mas em seguida você se lembra que você só passou por tudo isso, porque no momento mais lindo você simplesmente fugiu... Mas novamente você o odeia por não a ter esperado! Talvez ele nunca tenha se importado! Afinal, você errou, mas cruzou mundo e fundos só para reencontrá-lo, e ele simplesmente foi embora sem olhar para trás... Você só serviu quando era uma cega sendo conduzida... Ele não pode perdoar o seu erro! E você não sabe se quer perdoar o dele... Mas então você percebe que não tem nada para perdoar, porque você não sente raiva... É só... DOR!
Então, um lampejo! Você decide arrancar seus olhos e voltar a ficar cega! Porque você não quer vê-lo amando outra pessoa! Mas você pensa “se eu fizer isso, nunca mais poderia voltar a ver... E não vou deixar de ver só o que me desagrada, vou deixar de ver toda a beleza do mundo!”
Então você decide manter seus olhos, e simplesmente se afastar... Aceitar que ele seja feliz com outra... E se contenta pensado “pelo menos há muita coisa de belo para ver...” Mas é exatamente nesta hora que você percebe que está é sua maior maldição... Pois toda vez que você enxergar algo de belo, saberá que é por causa dele, e não haverá alegria sem dor... E não importa quão lindo for o pôr-do-sol, ele nunca alcançará novamente o mesmo sentido, pois ele não está mais ao seu lado...


E essa é minha história, amiga! Na verdade... Eu já sei sua resposta! Você irá dizer algo como “Esquece de uma vez esse médico! Pára com isso! Ele não se importa mais! Sim, ele te fez ver, ele te mostrou o que é amor, beleza e dedicação, mas se agora ele tem outra, deixe-o ser feliz com ela! O que vocês tiveram nunca será apagado, mas ele seguiu em frente! Siga em frente também! Você fugiu! Tudo tem um preço! Aceite isso!”
Mas aí serei obrigada a te responder “Para ele acabou tão rápido porque ele não teve sua vida mudada como eu tive! Como eu posso esquecer se literalmente tudo que eu vejo me faz lembrar dele? No começo parecia que ele se importava e eu só me deixava levar, mas no final foi bem o contrário... Sabe, amiga... Você pode me achar uma víbora, mas as vezes gostaria que essa nova garota lhe arrancasse os olhos... Assim eu poderia lhe dar os meus de presente... Quem sabe assim ele não veria as coisas como eu vejo? Mas isso não vai acontecer, não é verdade? Tudo bem... Vou voltar para o alto da montanha e ficar observando a paisagem... E toda vez que vier o pôr-do-sol me sentirei imensamente feliz e triste... Feliz por saber que uma dia amei... Triste por ele não estar ali... Mas tudo bem, afinal, quem não sabe que quando se ama um escorpiniano não pode haver alegria sem dor e dor sem alegria?”

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Capítulo XXI
E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? Perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer « cativar »?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer « cativar »?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer « cativar »?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa « criar laços... »
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... Eu creio que ela me cativou...

- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! Não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... Cativa-me! Disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? Perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas, cada dia, te sentará mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta a agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
- Que é um rito? Perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou à hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! Disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais a minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela é agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda: Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o para vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... Repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... Repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.



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