sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Sobre o vazio que fica toda vez que tiramos alguém de nossa vida

Rompimentos são dolorosos, mesmo os mais necessário. É a tal síndrome da formatura ou algo assim: não importa o quando você odiava o colégio, as matérias, seus colegas, enfim, não importa o quanto o seu ensino médio tenha sido uma porcaria, no dia da formatura você vai chorar, vai abraçar todo mundo, e sente antecipadamente uma falta absurda de tudo aquilo que a priori te fazia tão mal. Afinal, a formatura é um inexorável fechamento de ciclo e a única pergunta que fica na sua cabeça é "e agora?"

Você estudou por anos esperando se formar, e espera que uma vida melhor venha a partir de agora, mas a questão é que tudo que era familiar, por mais que não fosse bom, ficará para trás, e o futuro é uma incógnita. Você tem planos e sonhos, mas efetivamente não sabe como será agora. De repente se abre um buraco dentro do seu peito, e você não faz ideia do que irá preenche-lo, se é que ele será preenchido, e isso é excitante e assustador ao mesmo tempo.

Essa é uma situação emblemática, mas isso ocorre várias vezes em nossa vida em maior ou menor grau de intensidade. Um pedido de demissão daquele emprego que você odeia, um casamento, uma mudança de casa, uma amizade que vai embora...

A gente tende a suportar coisas terríveis pelo simples medo do novo, ou nos tornamos compulsivos em não cultivar nada pela ânsia do novo. Eu já estive dos dois lados dessa moeda, e hoje olhando pra trás, acho que me prendi demais a coisas que não valiam a pena, e desisti rápido demais de coisas que valiam. Mas na hora você toda aquela que parece ser a melhor decisão, e você nunca terá certeza absoluta se ela foi a correta.

Eu fiz uma amizade, que foi leve porque eu nunca pensei sobre ela, no exato momento em que comecei a tentar racionalizar o que aquilo significava, foi a perdição.

Às vezes acontecem coisas que modificam profundamente a dinâmica de uma relação, e agora eu percebi que ignorar isso e tentar fingir que as coisas continuam iguais quando nitidamente tudo mudou, não é nem de longe o caminho mais saudável.

Eu considero mentiras inaceitáveis, mas paradoxalmente, sou muito mais intransigente com as pequenas mentiras, porque as considero desnecessárias. Viver é um ato de coragem, e só que já pensou diversas vezes em por um fim na própria vida entende o que eu quero dizer. E ser honesto com as pessoas que te rodeiam e se importam com você deve ser a tarefa mais difícil e essencial dessa coragem.

Se ela tivesse me dito abertamente que não conseguia lidar com essa mudança de dinâmica e que precisa de espaço, precisava que eu me afastasse, não teria sido fácil, mas eu teria feito. Mas ela quase que me obrigou a entrar num jogo de simulações, em que eu e ela tínhamos que constantemente fingir que tudo estava igual, quando tudo havia mudado. E um jogo de simulações só sobrevive a base de mentiras.

É horrível sentir que você está forçando a barra, sentir que você se importa com alguém que não dá a mínima, perceber que todas as promessas se tornaram vazias, e começar a esperar constantemente por alguém que você sabe que não irá aparecer.

Esse vazio é estranho, parece que algo foi arrancado. Me sinto como aquele jogo que vc vai tirando as peças e tenta fazer isso de forma que todo o resto não desmorone. E lá fica a sua construção: esburacada, mas de pé. Ao longo dos anos muitas peças foram arrancadas, algumas foram repostas, e outras não, e eu fui ficando cada vez mais esburacada, e não sei em que momento eu vou parar de só ameaçar e vou acabar desmoronando. Dá até medo de se importar novamente com algo ou alguém e de repente ter mais uma peça tirada e bum! tudo vai abaixo, não porque aquela peça em si definia sua estrutura, mas porque muitas outras já tinham sido previamente retiradas, e por mais que ainda existam peças sólidas que nunca foram movidas, em algum momento elas não serão mais o suficiente para te manter em pé.

Eu sou orgulhosa e sempre ostentei meus buracos como cicatrizes que mostravam uma sobrevivência dura, mas agora eu vejo que se eu continuar me mutilando assim, eu vou desabar, e eu preciso encontrar algumas forma de preencher esses vazios. E não sei como. Confesso que sempre me relacionei da forma errada, eu entregava minhas peças para o outro, e quando tudo chegava ao fim, aquilo era arrancado. Eu preciso descobrir uma forma de fazer com que a pessoa coloque algo em mim, porque ai mesmo que ela vá embora e arranque o que ela pôs, ainda sim eu empato. Cansei desse jogo em que eu sempre perco e o outro sai inteiro.

Esta semana surgiu mais um buraco em mim, e doeu, porque além desta perda em si, veio a consciência de todas as outras perdas e de como minha estrutura está frágil.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Presença da tua ausência

Em um mar revolto
De presenças intensas
A ausência da tua ausência
Silenciosamente fez morada

Na quietude de tudo que é fundamental
O que é tão precioso
Que jamais causa estranhamento
As paixões são relevantes
Porque se destacam da paisagem
Furacões
E você, brisa leve
Na sutileza de tudo que é essencial
Histórias que se fundem
Tão naturalmente
Quanto o encontro de dois rios
Hoje a presença pulsante da sua ausência
É o que destoa
Na paisagem dos meus dias