domingo, 21 de abril de 2013

O inferno são os outros

Satre não poderia ter sido mais feliz ao formular uma frase, porque pelo menos para mim, o inferno definitivamente são os outros.

"Adicione alguns transhomem no seu face" ela disse, "você poderá se identificar e achar um caminho" ela disse...

Não, não é assim... E não foi a primeira vez, e duvido que será a última. Muitas vezes surge a expectativa "agora sim... agora encontrei o meu lugar no mundo", mas não é verdade. No começo até pode surgir um sorriso ao perceber algumas afinidades "ual! Eu também fazia isso", "eu também tenho essa mesma dúvida", "já passei por algo parecido"... A questão não é que eu deseje alguém 100% igual a mim, mas eu desejo empatia, mas só o que recebo são dogmas e mais dogmas.

Pode parecer absurdo, mas cada "facção" da comunidade LGBT não me parece muito diferente do convento no qual eu passei 6 meses da minha vida. Eu continuo ouvido analogicamente que se eu amo a Deus, eu devo ficar de joelhos 3h por dia na frente do sacrário, ou meu amor não é verdadeiro, devo fazer jejum toda sexta, dormir no chão, e passar o dia rezando, me livrar de todas as minhas roupas, e toda a vaidade... Como se Deus avaliasse o amor das pessoas pelos sinais externos.

Para fazer parte de um grupo, você tem que se desfazer da sua individualidade, ou você é anátema. Existem alguns pontos da sua vida que não entram em questão, mas em todos os outros, você tem que se reafirmar constantemente. Achei engraçado. Pessoas que biologicamente nasceram mulheres, mas se identificaram como homens, e querem visibilidade para isso. Até aí ok... Mas na minha cabeça, isso devia ser natural. "Eu me considero como homem, ponto final, tudo que vivi como mulher, faz parte da minha história de vida, e do processo que me fez chegar até aqui", mas não é isso que acontece. Pelo contrário, tudo que fez parte da sua vida antes da "transformação" se transformar automaticamente no Lord Voldemort e não deve ser nomeado, mencionado nem nada.

É ridículo!

E todas as pessoas exigindo constantemente que eu fique bem, que eu fique alegre, que supere... Pode parecer bobagem para o resto do mundo... Mas essa tristeza é onde reside a minha felicidade... A alegria, a euforia, o otimismo, me deixam agitada, me deixam fora do eixo... Na tristeza eu encontro minha paz de espírito e consequentemente, minha felicidade. A solidão dói, mas é a minha dor, e é essa dor que acaba dando sentido a tudo...

Eu não quero esquecer... Minha solidão amargurada foi o formol que inventei para preservar as lembranças de tudo que importa... Sei que é passado, e que o passado está morto, mas não quero deixá-lo ir... Eu quero continuar nesse looping massacrante... Talvez o maior vestígio da minha estadia no convento...

Hoje o céu está tão lindo... O dia está perfeito na minha opinião: um céu azul profundo, desenhado por nuvens, um dia claro, mas frio, um vento que corta a pele e toca a alma... E esse dia bonito faz doer, porque traz as lembranças de forma mais forte e contundente... Comprime o peito e parece que nem vou conseguir respirar...

E ali bem no fundo da minha cabeça começa a tocar a música "Boa pessoa", e eu fecho os olhos e estou num corsa cor de vinho, na Raposo tavares indo para o km 36... Eu to indo pra casa...





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