Dos homens não queria saber,
Mas rejeitava também minhas carícias.
Pedi a Eros que me mostrasse o que fazer
Para que ela se entregasse à minhas malícias
Ouvindo os conselhos do grande enganador
Tomei por empréstimo os dons de Dionísios
Veio primeiro da ira bacante, o furor
E em seus olhos brilhavam os vícios
Quando se esvaía de minh'alma a esperança
Pude ver o poder do grande deus manifestar-se
Jogou-se em meus braços feito criança
E como a uma cítara, pediu que a tocasse.
A lua sobre a água resplandecia
Suas mãos em meu corpo ela passava
Como quem a uma estátua esculpia
O grande deus sua resistência quebrantava.
Pesou-me o fardo de minha humanidade
Que não podia a noite alongar
E numa mistura de prazer e ansiedade
Vi no horizonte os raios de sol despontar.
Vieram outras noites e dias
Sem ela me procurar
E em meio a minhas agonias
Ao tramador voltei a implorar.
"Por que choras, criança mimada?
Acaso não dei o que você mais queria?
Joguei em teus braços a mulher amada,
Por que padeces em meio a tanta agonia?"
"Com uma mão me deste e com a outra tiraste
Me doaste meu maior Bem
Mas como se de mim zombasse
Do maior mal foste o doador também!"
"Eu sou aquele que É
Mas não sou tão grande assim
Maior do que eu é a Noite
E seu abismo sem fim."
"A Noite é o Esquecimento
O Esquecimento é a Morte
Abismo de eterno tormento
No qual está minha sorte."
"A Memória vence o Não-Ser,
Foi um dom às Musas confiado
Enquanto a lembrança permanecer
E como se ela estivesse sempre ao seu lado."
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