domingo, 9 de dezembro de 2012

Pourtant quelqu'un m'a dit



 On me dit que nos vies ne valent pas grand chose 
Elles passent en un instant comme fanent les roses 
On me dit que le temps qui glisse est un salaud 
Que de nos chagrins il s'en fait des manteaux 

Pourtant quelqu'un m'a dit 
Que tu m'aimais encore
...

Eu já estava querendo escrever esse texto desde hoje cedo, mas como estava ocupada, fui deixando pra depois, e foi aparecendo na minha mente várias coisas que eu queria dizer. Mas o engraçado é que o pensamento inicial que me fez querer escrever foi o seguinte: meu problema com a Aline é que a principio mentimos muito uma para outra, não por maldade, mas pelo desejo de nos conquistarmos mutuamente. O porque isso é engraçado? Bem, hoje ela decidiu mandar notícias, e me escrever uma mensagem gigante onde começava dizendo justamente isso...

Eu poderia repetir as mesma palavras do Herbert Vianna e dizer que "hoje eu joguei tanta coisa fora, eu vi o meu passado passar por mim, cartas e fotografias, gente que foi embora, a casa fica bem melhor assim", e de fato, ontem de noite/madrugada eu brinquei de confrontar o passado, e com muito despeito descobri que eu mudei muito pouco, quase nada. Eu menti para a Aline, e não porque eu quisesse enganá-la, mas porque a nossa própria vaidade faz com que a gente acredite que somos melhor do que somos... Eu uso momentos de exceção em que sou excepcional para dizer "eu sou assim", mas os momentos constantes em que sou um pé-no-saco eu insisto em dizer "essa não sou eu, é uma fase ruim... você me conheceu numa fase ruim..."

Mas ontem percebi que para todas as minhas namoradas era a mesma ladainha... Não! Elas não me conheceram numa fase ruim. Essa sou eu: preguiçosa, adoro procrastinas, vicio numa coisa e fico estagnada naquilo até enjoar, tenho surtos de raiva, sou insegura, ciumenta, contraditória. Não! Eu não sou equilibrada, bondosa, gentil, extremamente inteligente... Às vezes eu tenho momento assim, mas essa é a exceção e não a regra...

E acredito que a Aline fez o mesmo comigo. Ela queria realmente acreditar que não era mais aquela pessoa dependente emocional, ciumenta, insegura. Ela realmente precisava acreditar que tinha mudado e que tudo aquilo tinha ficado para trás. Mas acho que só quando somos realmente colocados em uma situação podemos saber como reagiremos naquela situação.

Será que ela teria ficado comigo, se quando ela me disse "eu gosto de lady" eu não tivesse dito "mas eu sou bem lady de vez em quando", ou quando ela disse "não gosto de gente ciumenta, não tolero isso" eu não tivesse dito "mas eu não sou nada ciumenta, aquilo foi exceção".

É irônico, eu menti, mas não por maldade, mas porque eu queria ter uma chance, pelo menos uma de demonstrar todo o amor que eu sentia, de demonstrar quem eu era, e ver se era possível ela me amar como eu sou. A parte irônica disso tudo, é que sim, ela foi capaz de me amar como sou, mas já disse que sou insegura, surtada e contraditória, então comecei a me sentir mal, porque eu não era nada do que ela desejava, eu pude até fingir que era a princípio, para ter uma chace dela tentar ver além. Não que eu seja tão canalha a ponto de ter interpretado tudo de uma forma psicopata, confesso que tudo ali faz parte de mim. Eu sei entender racionalmente que ciumes e insegurança não fazem sentido, eu tento combater isso, de fato eu tenho um lado lady que as vezes implora para se manifestar, eu tenho tudo do que demonstrei ser... Mas isso é a exceção, não é a parte de mim que faz a rotina. Eu definitivamente não sou uma boa pessoa para se conviver, eu sou difícil e sei disso. Não me orgulho e tento amenizar as características mais duras, mas ninguém disse que seria fácil.

A questão é que ontem revendo tudo, eu percebi o como o ser humano é patético. A questão é: eu não sei mais se acredito no amor. Provavelmente não. Tantas juras de amor eterno que se vão. Acho que essa questão de amor é só muita dopamina e endorfina na veia, e faz você ser hiperbólico, é tudo hormonal... 

Mas eu queria entender porque mesmo sabendo tudo isso eu ainda sinto... Da mesma forma que eu sabia que minha vida seria muito mais confortável e tranquila ao lado da Patricia, pode ser que eu me sinta "traída" porque estou magoada, mas a verdade é que eu não sou tonta... Eu sabia que não seria fácil, mas eu me joguei mesmo assim. A Patrícia dizia que eu estava enfeitiçada, que eu não enxergava nada diante de mim. Ela estava certa e errada. De certa forma acho que fui mesmo enfeitiçada, mas eu enxergava sim, eu entendi perfeitamente bem as consequências dos meus atos...

Mas não foi uma decisão fácil de tomar, embora desde o princípio eu tivesse certeza de que decisão eu tomaria. 

A música do começo do post... Ela voltado de Minas por causa da eleição do aniversário da avó, mas ela chegou na sexta a noite e disse para a família que chegaria só sábado a tarde. Estávamos sozinhas em casa. Passamos a noite toda acordadas, e foi uma noite mágica. E por voltar das 5:30h manhã, ela disse que o sol já estava para nascer, se eu queria esperar acordada para vermos juntas... Eu disse que sim, e ela me deitou no peito dela, e me abraçou, ligou o celular, e disse que queria colocar algumas músicas que ela ouvia e pensava em mim, e ela colocou essa música, e começou a cantar para mim. Ela pulava algumas partes e cantava na base do embrometion... E eu dentada no peito dela, me sentia protegida e aconchegada, e eu me sentia completa, eu olhava para cima com o rabo-do-olho, e ela fechava os olhos e cantava com a alma a partes que ela sabia, e quando chegava partes que ela não sabia, ela abria os olhos, e me olhava de forma tão apaixonada, enquanto passava a mão nos meus cabelos...

Ela colocou outras músicas e cantou para mim aquela noite. A Patrícia tinha me dado um ultimato e era minha última chance de decidir o que eu queria, e foi naquele momento que eu tive certeza. E por mais que eu tenha passado maus bocados desde então, e tenha me magoado muito, e tenha me revoltado contra tudo, e tenha sofrido, e tenha brigado, e tenhas surtado... Apesar de saber que provavelmente a minha vida estaria muito mais tranquila e sossegada se eu tivesse optado pelo outro caminho, no fundo da minha alma eu sempre senti que tomei a decisão certa.

Talvez a nossa vida não valha grande coisa, e passa em um instante assim como murcha uma rosa... Talvez o tempo seja uma canalha, que desliza silenciosamente e coleciona nossas mágoas como se fosse seu tesouro... Talvez o destino deboche de nós, prometendo tudo e não dando nada, pois faz parecer que a felicidade está ao alcance das mãos, mas quando as estendemos para pegar, nos descobrimos loucos... Mas alguém me disse que ela ainda me ama... Será possível então?

Será que é possível amar alguém quando não se acredita mais no amor? quando se está desiludido com tudo? Eu honestamente não sei... 

Talvez eu precisasse de um tempo... Sempre achei uma bobagem essa história do tempo, mas talvez ele só colecione nossas mágoas porque nunca damos ouvido para ela... Às vezes a distância é necessário para nos fazer lembrar porque queríamos tanto estar onde estávamos... 

Eu poderia acusar a Aline de ter feito eu me apaixonar usando falsas promessas, mas eu me apaixonei por ela sem uma palavra se quer. Quando ela apareceu na janela do segundo andar do bar da 9. Sorriu, e acenou, eu olhava fixamente pra ela, e ela fazia graça para as outras pessoas, e ela olhou pra mim e viu que eu olhava pra ela, então ela desfez o sorriso, olhou para outro lado de forma cabisbaixa, fez um biquinho e entortou a boca para o lado. Depois voltou a olhar pela janela, sorriu, fez um sinal de "espera" com a mão. Ela desceu. Parou na porta, me chamou, eu levantei, ela me pegou pela mão, me puxou para um canto, olhou para mim com uma cara de culpada e disse em tom de confissão "eu fiquei com a Flávia... Mas eu não queria..."

Quando eu a beijei a primeira vez, ela parecia nervosa, e eu estava nervosa, e eu sei que meu mundo parou de girar depois aquele beijo. Eu não precisava de nenhuma promessa. Simplesmente me encantava a forma como ela mexias as mãos. Ou como ela ficava com as bochechas "gordinhas" quando sorria, ou como ficava vermelha quando estava encabulada. E como usava o relógio na mão direita, ou mesmo quando tirou a carteira da bolsa, a forma como ela abria, ou ficou olhando fixamente para o cartão, com a mão segurando um deles pela ponta, enquanto pensava no que ia fazer, mexendo suavemente os lábios como uma forma de falar consigo mesma, e depois puxou o cartão da carteira balançado a cabeça de forma afirmativa ainda mexendo os lábios com cara de quem chegou a um acordo.

E mesmo quando ela ainda não me dava bola, eu ficava parada olhando a forma como ela sorria, e como ria das próprias piadas, e perdia o fio da meada no meio do que ela tava falando, e como queria metodicamente sempre parecer mais controlada do que de fato era... Mas principalmente a forma que ela dançava... Sempre me encantou vê-la dançando... Ou pelo menos mexendo a cabeça seguindo o ritmo de uma música... E quando ela faz qualquer uma das duas coisas ela faz um biquinho tão bonitinho com a boca... E mexe o pescoço se uma forma engraçada... Ou como ela coloca a mão no meu ombro, ou segura a minha mão de uma forma que nitidamente quer simular uma segurança que ela não tem...

É provável que o amor seja uma grande falácia, mas mesmo assim eu a amei desde o primeiro momento, sem nenhuma promessa, e sem saber nada. E eu sei que desde aquele momento eu já estava pronta para me jogar mesmo sem calcular os riscos. E que mesmo hoje, sabendo de tudo que eu sei, eu só gostaria de poder estar com ela pelo menos mais uma vez...


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