sábado, 2 de julho de 2011

Carta para uma Iguanna

(Sim! Se que isto é gigante e que portanto, ninguém lerá... mas... Sempre escrevi por amor à escrita e não para "meus leitores"...)

Bem, achei melhor redigir um e-mail do que correr o risco de te acordar devido uma notificação no facebook. E também não queria dormir, estou pulsando agora, sabe? Acho que cada pessoa deveria ter no mundo alguém que REALMENTE ouvisse o que ela tem para dizer, visse o que ela tem para mostrar, e sentisse com ela, seja lá o que for que ela precise sentir... Eu sou a parte romântica e iludida lembra? Melhor assim, você é libriana e acho que concordará que o equilíbrio é necessário.


Um dia, há não muito tempo atrás, eu estava mal porque a minha namorada, que eu estava junto há menos de uma semana tinha conseguido destruir numa noite tudo que importava para mim. Talvez eu devesse ter percebido que se ela fez isso... Bem... Ela não era essa pessoa que iria ouvir, ver e sentir comigo... Mas o irônico é que neste dia, encontrei alguém realmente disposta a ouvir pelos meus ouvidos, ver pelos meus olhos e sentir pelo meu coração. E essa pessoa foi você. Você não me julgou, não pediu explicações, não perguntou. Você conseguiu estar perto mesmo estando distante, e a partir deste dia você se tornou muito mais do que eu supunha alguém poder se tornar.


Não, não me entenda mal. Não estou agindo como uma adolescente de 13 anos se declarando para o garoto mais popular do colégio... Embora pareça! Hahaha! Mas se houve algo que eu pude perceber ao longo destes meus 22 anos, é que sentimentos são muito diferentes de relacionamentos. A Graziela tinha um relacionamento comigo, porém, o coração dela estava realmente em outro lugar, apesar dela ter algum afeto por mim em alguma instância, sei que não fui indiferente na vida dela. Sei também que todo o amor como conteúdo instintivamente busca sua forma. E não é diferente desta vez. E acho que aquela sinastria acertou exatamente no alvo quando disse que eu e você não poderemos seguir modelos pré-existentes de relacionamentos.



Só sei que quando eu converso com você, eu me sinto em paz. E que é como se eu te conhecesse a vida toda, e não houvesse porque ter medo ou desconfiança. Mas como se a cada momento eu tivesse te conhecendo outra vez, então nenhum assunto é tedioso, nada é desinteressante.


Talvez você fuja... Mas não é a primeira vez que digo isso não é verdade?


- Provavelmente nunca mais nos veremos...

-Mas por que você diz isso, eu fiz alguma coisa de errado?

-Não... Nada de errado... Mas você viu por baixo da máscara, agora não há mais motivo para você ficar...

-Até quinta-feira, Camila...

-Acredite em mim... Todos fogem depois que vêem debaixo da máscara...

-Eu não vou fugir, e ai de você se não estiver aqui na quinta-feira...


É... Você não apareceu na quinta-feira... Você estava no hospital... Mas você não fugiu também...


Sabe... Talvez seja por isso que a gente só consiga se relacionar com pessoas escrotas! A gente “platoniza” tudo que realmente vale a pena... E no fim, nos contentamos com migalhas de atenção de pessoas que não mereciam a NOSSA migalha de atenção... Mas... Se enquadrar nos moldes não é para nós. Sempre encontraremos essas pessoas que vão preferir cheirar na Augusta e fazer um funk (mesmo que literário) ou, que dizem “ou dá ou desce” (se é que você me entende)... Estranho... O mundo é estranho... Ou talvez nós que sejamos...


Seja como for, eu na minha estranheza decidi reler históricos... Relembrar... Porque um dia você esteve ali para tapar buracos... Buracos abertos em meu coração pela Graziela... Então eu não dei a devida atenção ao que você me dizia... Não conscientemente, pelo menos... Mas foi ali... Ali que tudo realmente começou... Sentir que eu não estava mais sozinha fez toda a diferença na minha vida... E me trouxe para este momento que estou agora... Então resolvi reler, e ver o que você realmente tinha para me dizer...



Re-ouvi as músicas que você me mandou... Ora, se naquele momento nossos corações se tocaram porque você passou a ver o mundo com meus olhos, ouvir com os meus ouvidos e sentir com o meu coração, mesmo que por um segundo se quer... Eu quis “voltar no tempo” e inverter os papeis... Vi que você me falou de um filme... Ele se chamava 21 gramas...


Procurei o filme. E quanto esforço para achar legendado. Achei. Formato Avi, servidor congestionado. Demorei muitas horas para baixar. Abri o filme para começar a ver, recebo sua mensagem pelo face dizendo que iria entrar no MSN. Não gosto de parar filmes no meio, não ia deixar de te dar atenção. Resolvo esperar. Conversamos, conversamos e conversamos. E como a conversa flui entre nós... E falamos sempre das coisas mais absurdas: cantadas de pedreiros, e seu perseguidor particular, ex namorados e namoradas, e xingamos homens por serem filhos da puta e mulheres por serem vadias... E falamos de músicas, blogs, compromissos, faculdade, arte... Mas hoje teve algo especial... Um mal entendido... Nós que sempre nos entendemos tão bem, tivemos um mal entendido... Uma frase mal-lida, uma piada mal-feita e um sentimento mal-resolvido... E Cabum!


É estranho, mas a gente nem percebe o quanto certas feridas ainda estão abertas até olharmos para elas, e quando olhamos, parece que magicamente volta a doer como na hora que elas foram feitas... Senti raiva do Carlos por ter me traído... Traído toda a confiança que depositei nele... Senti raiva da Bia por ter me enganado... Mas de todos, senti mais raiva de você por ter preferido ele... Por brincadeira, por desconhecimento, por instinto, por maldade... Não importava... É... Olhando de fora é nítido o quanto minha atitude foi infantil e descabida... É estranho querer ser a escolha de alguém quando você sabe que não é nem ao menos uma hipótese...


Fico feliz por ter passado tudo que passei na vida... Minhas experiências me trouxeram maturidade... Maturidade o suficiente para eu não foder com absolutamente tudo agindo feito uma criança mimada que quer porque quer aquilo que quer e a hora que quer!



Não, não! Só desta vez eu vou fazer diferente... Voltar atrás e tentar recuperar a pureza que eu tinha quando era criança... E tenho quase certeza que já te disse isso, mas uma vez, quando eu tinha cerca de 13 anos de idade, alguém que agora não me lembro quem me perguntou “Para você, é mais importante um namoro ou amizade?” e eu respondi “mesmo dentro de um namoro o mais importante é a amizade. Porque se você for somar quanto tempo você gaste beijando alguém ou fazendo sexo com essa pessoa, é basicamente irrisório se comparado ao tempo que você passam conversando, ou fazendo outras coisas, coisas próprias da convivência, então quando você deixa a amizade escapar, aquele relacionamento se torna muito pobre”... Não sei bem em que ponto do caminho me tornei escrava dos meus hormônios... Só sei que isto não estava me levando muito longe...


O filósofo Montaigne disse uma vez sobre a amizade algo parecido com isso:


Eu sou inteiro, e você é inteiro e juntos somos dois, mas se um falta, o que sobre é metade, e metade não é nada. (acredito na sua capacidade mental, por isso vou te poupar de dar qualquer explicação sobre isso).



Só o pensamento é interessante por si. Mas é mais interessante ainda que um filósofo oriental, que eu não sei o nome, que não teve contato com a filosofia e Montaigne disse basicamente a mesma coisa, mas sobre o amor romântico...



Talvez você só considere o amor cruel, pois tenha visão capitalista dele... Tem um livro ótimo que eu li, e que se encontra em sessões de “auto-ajuda”, mas é um livro incrível chamado “Vivendo, amando e aprendendo” (em inglês com o título bem mais legal: “Living, loving & learning”) no qual o autor (Leo Buscaglia) faz diversas considerações interessantíssimas como: “Mas quem nos ensina a amar?” ou “Nós vemos filmes de duas horas no qual um mocinho se humilha e passa semanas, meses e talvez anos correndo atrás da mocinha e se humilhando por ela, e então finalmente o destino conspira a favor deles e eles se beijam e o filme acaba. Lamento informar para vocês, mas isso não é amor, é falta de amor-próprio. O amor não é correr atrás de uma pessoa e fazer loucuras impensáveis. O amor começa justamente onde o filme termina” (só pra saber, eu não procurei os trechos nos livro, então são paráfrases que mencionei de memória).


As pessoas têm uma visão tão distorcida do amor... Mas junto minha voz ao do Buscaglia e pergunto: mas também, quem ensinou essas pessoas a amar? Usando um exemplo próximo de você, sua mãe e seu pai dizem que te amam, mas acabam te massacrando, ela fazendo cobranças absurdas e fazendo você ficar paranóica, ele, pelo que pude perceber, passando por cima dos sentimentos alheios sem se preocupar com as coisas que destrói por buscar a auto-satisfação... E quantas crianças não foram criadas em situações até piores? “Eu estou te batendo porque te amo”, “Olha, o papai te ama tanto que quer fazer uma brincadeirinha especial com você” (é... infelizmente tem muita gente doente nesse mundo)... Então é o ciclo de ódio que se perpetua se escondendo atrás da máscara e do nome do Amor... E as pessoas continuam a achar que Amor tem a ver com cobrança, com massacre, com violência... O Amor dói e inevitavelmente dói... Mas as pessoas distorceram isso! O amor não tem que doer porque o cara é um maníaco ciumento que briga com a esposa todos os dias e faz da vida dela um inferno... O amor dói naturalmente, como se comprimisse o peito por não caber em si... O Amor dói pela distância... Dói pela preocupação... Dói acima de tudo pela compaixão, por você amar tanto que aceita para si a dor do outro, para tornar o fardo mais leve... E sofre por coisas que não sofreria se estivesse sozinho, mas dulcíssimo sofrimento é este!


E de repente percebo o como minha mente divaga, e salta de um assunto para o outro, como um beija-flor de flor em flor... Sorvendo o néctar com carinho... Às vezes volta em flores já provadas... Mas a experiência é sempre única... Beija-flor... Definitivamente minha ave favorita... Sabe o motivo do meu e-mail ser camila_beija-flor? Acho que isto eu nunca te contei... Não vou contar a história toda, pois seria muito longa, só a explicação...


As asas de um beija-flor batem de 50 a 80 vezes por segundo! Assustadoramente rápido. Um voo tão rápido e tão intenso exige técnica, disciplina, controle do próprio corpo. Mas é este controle que o beija-flor possui sobre si mesmo que permite que ele seja realmente livre. Ele é o único pássaro que consegue ficar parado no ar, ou até mesmo voar para trás. Como dizia nosso querido Renato Russo “Disciplina é liberdade”, e sempre acreditei nisso. As pessoas costumam buscar uma liberdade caótica, mas não... A Liberdade tem um preço...



A primeira garota que eu realmente gostei na vida era apaixonada por borboletas... Porque ela dizia que as borboletas passavam mais tempo como lagartas ou no casulo do que propriamente como borboletas, mas que ainda sim valia a pena, pois o tempo de liberdade e felicidade não vale pelo quanto dura, mas vale simplesmente por existir... E que é melhor ser borboleta por um dia que lagarta a vida toda... Simbolicamente falando, é claro, acho que ninguém quis realmente contestar a importância das lagartas...


Seja como for, acho que já me estendi demais nesse e-mail, então vamos voltar ao foco: tudo que eu vivi até hoje me preparou para este momento. Se o preço da vida se paga vivendo, pelo preço que paguei a pago a cada dia, estou mais pronta para a cada dia pagar mais e receber mais... Você trouxe luz para a minha vida, então eu só posso ser grata por isso... Independente do que vá acontecer daqui para frente... Como já disse, o Amor busca sua manifestação, assim como cada conteúdo busca sua forma... Assim como cada lagarta busca a borboleta dentro de si... E quando vemos uma lagarta rastejando ou um casulo fechado, só que temos é a promessa de uma borboleta, mas nunca sabemos que borboleta será essa... Não podemos acelerar o processo... Se uma borboleta está saindo do casulo, e você querendo “ajudá-la”, pois quer ver logo o resultado, tenta tira-la com a mão, você acaba por matá-la... Desta forma, aquele casulo nunca será mais do que uma promessa não cumprida e uma borboleta morta...



E neste ponto eu me pergunto: será que ela está entendo alguma coisa do que eu quero dizer?


Seja como for, pela escolha que fiz de não apressar a saída da borboleta do seu casulo, a promessa de uma briga morreu como promessa, o que me deixou muito feliz... Você me pediu desculpas, e eu fiquei feliz que você tenha feito isso, não porque você tivesse algo para desculpar, mas porque isto demonstrou o quanto você se importa com o que eu sinto e com a forma como você me afeta... Não te desculpei... E já te disse: não te desculpei e nem nunca irei desculpar... “Amar é nunca pedir perdão, pois todos os erros já estão automaticamente perdoados antes mesmo de terem sido cometidos”... Acho que é mais ou menos assim que começa o filme Lovy Story , ou eu estou louca? Não sei...


Mas por falar em loucura... Só para fechar a noite, fui eu contando algo absurdo sobre ter sonhado com você muito tempo antes de te conhecer... Foi verdade e eu sei que foi verdade, mas quantas pessoas teriam se privado de me mandar para o manicômio depois desta? Aparentemente, você pelo menos me deu o benefício da dúvida... Talvez um dia você tenha um sonho mágico, e talvez você entenda do que eu estou falando! Você encontra criaturas que são invisíveis aos olhos humanos, e encontra no portal dos sonhos com almas de pessoas que você terá que conhecer, porque vocês já se conhecem desde sempre, e recebe conselhos de mestres espirituais, e tem acesso a informações que não teria de outra maneira...



Seja como for, no meu sonho você me prometeu que nos encontraríamos depois do meu aniversário, ainda no meu ano 1, e voalá! Aqui estamos nós... O porquê disto? Por que nos encontramos? O que eu sou para você? O que você é para mim? O que é esta empatia fora do comum que nos une? Não sei, não importa... O casulo está se abrindo, lembra? Tudo tem seu tempo. Não vale a pena matar algo só para descobrir por antecedência o que era...


Você precisava dormir. Deveria ter ido as 23:45h, mas como sempre, você ficou um pouco mais... Mesmo sem eu pedir... Talvez eu nem tenha tido nada a ver com isso... Mas é sempre assim, não é? Você sempre diz “adeus” antes da meia noite, e só vai dormir uma ou duas horas depois... Talvez até três... Você é do tipo que sempre fica um pouco mais... E isto é uma das coisas que mais gosto em você... Pois geralmente é justamente naquele tempo que está fora do tempo planejado, ou seja, do tempo administrado como tempo, sendo portanto o tempo da existência e não o tempo do controle, que as coisas boas realmente acontecem... Eu mesma, já deveria ter ido dormir há 4 horas atrás... Mas estou aqui tendo mais uma verborragia, que provavelmente não mudará em nada a história do mundo... Mas a magia não existe fora de si, a mágica da magia é ser mágica para si mesma... Ela é hermenêutica...


Você foi dormir... Eu fiquei vendo o filme... E poderia comentar tantas coisas! Como, por exemplo, as estratégias temporais utilizadas que te obrigam a prestar atenção e raciocinar para entender o que se passa... A trama sobre vidas que se cruzam... Vários pontos de vista sobre uma mesma história... Não há mocinhos nem vilões, certo ou errado... Cada um estava dando seu melhor, fazendo o que achava era certo... Talvez se o Jack não tivesse ganhado a caminhonete na rifa, talvez se ele não tivesse saído com ela aquele dia, talvez se o Mickey tivesse olhado melhor para os lados antes de atravessar, talvez se ele tivesse ficado em casa. Talvez se a Cristine tivesse se negado a doar o coração do marido... E já estou caindo mais no filme “efeito borboleta” (e olha novamente a borboleta ai) do que no “21 grama”, mas 21 gramas e o peso de um beija-flor... Então talvez tudo isso tenha sido uma grande meditação sobre beija-flores e borboletas... Porque ambos são pequenos, belos e livres... Quanto se perde? Quanto se ganha? Morrer é perder as 21 gramas... Morrer... O que é o corpo senão um casulo... Morrer e finalmente libertar a borboleta que habita em nós... A borboleta que causalmente tem o peso de um Beija-flor...





P.S.: Relembrando que na mitologia Grega a borboleta era identificada com Psique (alma) que era esposa de Eros (Amor). E se Eros tinha asas velozes e era ele que promovia a fecundidade e reprodução da beleza ou atirar suas setas, porque não identificá-lo com o Beija-Flor? Então talvez a Morte seja o beijo final entre Eros e Psique

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