sexta-feira, 17 de junho de 2011

Reflexões Sobre o amor

A Camila Strongren é uma ilusão constituída por padrões sociais, pela família, por padrões culturais, pela genética, pelo clima, pela História, pelos amigos, pela mídia... Eu penso que sou algo... E se penso logo existo como o ser que pensei ser... Mas ainda sim, ele é uma mentira... E essa mentira que constitui o que eu penso que sou, me afasta do que eu realmente sou e do que realmente importa. Ela me importa, então, não vou pensar duas vezes em jogar tudo isso no lixo por ela.

Está a conclusão de uma longa e proveitosa noite (proveitosa, apesar de dolorosa, diga-se de passagem). Preferi começar pelo fim por dois motivos:
1- O texto será gigante, então que não quiser ler, pode parar por aqui, pois já sabe a conclusão
2- É MUITO mais divertido começar pelo fim

Ressalvas feitas, vamos começar a longa história...

Era para ser uma noite normal. Depois de uma noite perfeita, no qual eu me casei na espontaneidade dos meus sentimentos mais puros. O ônibus demorou demais, peguei outro, por isso fiz outro caminho. Deveria ter ido para o IEB direto, mas todos sabem que às vezes uma simples escolha pode mudar todo o rumo de sua vida, e na noite que passou, muitas escolhas decisivas foram feitas.

Entrei pelo portão 2 da USP, eu iria esperar o Circular 1, para ir direto para o IEB, mas o circular 2 estava passando, corri e resolvi pegar, descer na FFLCH e ir a pé. Ao descer, reparei no Eric na beira no precipício (muito hermenêutica essa passagem), não resisti a me juntar a ele. Mas meu plano era apenas dizer olá e ir para a aula, pois eu tinha planos para o dia seguinte. Quando ele disse que os planos não poderiam se concretizar e me chamou para a Quinta e Breja, resolvi aceitar, e assistir aula no dia seguinte.

Liguei para a Grazi para avisar sobre a mudança de planos, perguntei onde ela estava. Ela deveria ter se encontrado com um tal de Gustavo, mas foi franca, me avisou que ele desmarcou e que ela estava na Vila Madalena com a Thaís e a Kikka. Motivo para problemas? Nenhum, mas ás vezes nosso egoísmo age de forma misteriosa...

Ela perguntou por que não avisei antes que iria para a Quinta e Breja e ela teria colado por lá. Pedi para ela vir. Ela disse que não podia, e eu podia ter aceitado. Mas estava irritada. Ciumenta. Com ciúmes do que? Não sei! Mas Por quê? E várias perguntas começaram a surgir... “Por que ela não quer fazer sexo comigo? Será que ela não se sente atraída?”, “Por que ela não quis dançar ontem? Não custava nada! Será que ela não pode abrir mão de algo sem importância para me fazer um pouco feliz?”, “Por que ela não pode vir pra cá? Ela prefere ficar com elas do que comigo? Será que ela não pode fazer pelo menos um pouco de esforço? Ahhh! Claro que seria trabalhoso, mas será que eu não importo mais que isso tudo?”. Insisti. Ela negou. Me incomodava a constante negação. Sim, eu estava com o orgulho ferido.

Mas meu último namoro me ensinou sobre certos comportamentos. Então eu deveria engolir a mágoa, dizer que estava tudo bem, evitar o conflito. Era o plano, mas eu não estava sozinha. Então o Eric começou a provocar e ele sabe fazer isso como ninguém. Falou várias coisas. Entre elas que eu não deveria reprimir minha vontade, e que eu não podia esperar que ela amasse alguém que eu estava fingindo ser, então se eu era uma louca ciumenta, eu deveria agir como tal. Foram bons argumentos. Cedi.

Numa coisa ele estava certo, ela realmente me achou uma louca ciumenta. Brigamos. Pedi um tempo. Não sabia se podia lidar com essas atitudes dela. Estava magoada, mas cheia de razão. Ele quis ligar para ela, disse que não queria estar perto, então, não sei o que houve na ligação. Mas com um pouco de dor perguntei “acabou mesmo, ?”, “sim, mas não se preocupe, ela nunca foi nem nunca será mulher para você”. Deus sabe como o Eric me irrita algumas vezes. Eu queria ir para aula, mas ele disse “Camila, relacionamentos não são para pessoas como nós. Nós somos pessoas excepcionais, e nunca encontraremos parelha a altura. Então ou você vai na Quinta e Breja comigo e pega todas as minas que você puder pegar, ou vira uma dona de casa e se isola do mundo, por é um crime ser tão linda e se fechar em algo”...

Ahhhh... A adulação... Mais um momento decisivo, e minha resposta “É... tem razão... Vamos para a Quinta e Breja, como nos velhos tempos... Vamos ver quantas eu consigo pegar!”
Mas foi engraçado, pois no caminho ele estava tentando me convencer que aquele era meu destino: pega mais não se apega, e eu disse “então eu poderia ser mais apta nisso”, a resposta foi “Mas essa é a questão. Nunca temos aptidão para aquilo que é o nosso destino, mas fazemos mesmo assim, o que prova o amor que temos por aquilo, e por isso funciona”...

Supostamente isso deveria me fazer acreditar que eu deveria me tornar o Dom Juan de saias, mas fiquei alguns minutos pensando e por fim respondi “Então talvez o meu real desafio seja fazer o Amor dar certo...”, a resposta dele foi curta “talvez...”

Achei muitas garotas bonitas. Mas não me sentia motivada a me aproximar... Passei por alguém que tinha o mesmo perfume que ela, e doeu... Encontramos um grupo de amigos do Eric, estavam cantando, cheguei na parte que eles estavam recitando exatamente estes versos: “Vou te contar / Os olhos já não podem ver / Coisas que só o coração pode entender / Fundamental é mesmo o amor / É impossível ser feliz sozinho //
O resto é mar / É tudo que eu não sei contar / São coisas lindas /
Que eu tenho pra te dar / Vem de mansinho a brisa e me diz / É impossível ser feliz sozinho”

Tive vontade de chorar, mas não chorei... Mas me senti sozinha, mesmo no meio de um monte de gente. Sim, eu poderia pegar quantas garotas eu quisesse, mas eu não queria, sabia que isso não iria me satisfazer. Falei para o Eric que não queria nada daquilo, ele manteve sua postura “Relaxa, Camila! Já disse, você é boa demais para ela...”, depois de tantas vezes ouvindo isso sem questionar (pois o discurso não vinha de agora), finalmente respondi “Então talvez eu não queria ser tão boa assim!”, “Mas é impossível, você não pode voltar atrás... Aproveite o rolê... Você é boa demais para ela...”

Me isolei num canto... Ficava pensando sobre possíveis saídas, mas cada vez me sentia mais presa nesse labirinto... Não conseguia confiar nela... Mas ficar agindo como uma louca ciumenta só nos afastaria. Mas não queria abrir mão... Afinal, eu não estava errada! Estava? Essa aporia me lembrou o conto de Borges “Labirinto dos caminhos que se bifurcam”. Me agachei, pois estava num chão de terra, e com o dedo indicador desenhei no chão uma linha reta, que depois de dividia fazendo dois caminhos. Olhei para meu pequeno caminho que se bifurcava, me observei naquela escolha, sem saber que decisão tomar. E ao observar meu desenho no chão, reparei que logo ao lado do caminho da direita, há menos de 2 centímetros de distância, tinha o desenho de um coração, que não era eu quem tinha feito, e eu tinha quase certeza que não estava lá antes.

Fiquei com medo de estar ficando louca, chamei o Eric, mostrei, ele também viu, e riu...
Lembrei de Raul Seixas “São tantos caminhos tantas portas, mas somente um tem coração”.
Perguntei ao Eric se ele estava com o tarot, ele respondeu que sim. Pedi uma leitura, ele aceitou. Quando estava embaralhando, pensei que não queria só saber o destino, mas a escolha. Nesse momento ele me pergunta se vou querer o método da Cruz Celta (que só mostra o caminho do destino) ou o Golden Dawn (quem aponta os caminhos e as opções). Escolhi o segundo.
Foi interessante. Para quem não conhece o método, as 3 cartas do meio são a questão. E a divisão direita esquerda aponta sobre o Carma e o Dahrma, sendo o caminho da direita o caminho do Dahrma, ou seja, o caminho da verdade. E para ironia completa, a carta que marcava a escolha da direita, da verdade, do Dahrma, era nada mais nada menos, o Ás de copas, o coração.

Não quero falar muito sobre o jogo, mas basicamente ele apontou que não importava a escolha, no final, eu chegaria ao mesmo lugar (sem dizer que lugar era esse), mas eu poderia seguir o caminho do amor, ou o caminho da birra. Mas mesmo que eu escolhesse o amor, o preço a pagar seria a ciclicidade dos acontecimentos. Eu não teria uma vida perfeita, amor e dor se alternariam.
Acho que a resposta óbvia seria escolher o caminho do Amor, foi o que eu sempre pensei que faria nessa circunstância. Tentei mandar uma mensagem para a Grazi, agir amorosamente, mas olhando de fora, parece que minha mensagem tinha mais birra do que qualquer coisa.

Novamente, eu simplesmente estava sendo arrastada pelo meu destino.

O Eric continuava querendo me convencer que era o melhor. Afinal, melhor acabar de uma vez, e evitar a dor. Mas aquilo não me convencia, me incomodava, mas nem eu sabia por que... Aparentemente só haviam dois caminhos: ou eu continuava sendo quem eu era, e com isso afastaria ela de mim; ou eu mudava quem eu era, perdendo assim meu brilho, e com isso ela se afastaria. Aparentemente o fim era inevitável...

Ele me chamou para dar uma volta, preferi, queria silêncio para pensar... Fomos caminhando em direção à Praça do Relógio, mais especificamente, ao lugar no qual eu tinha me casado com ela há pouco mais de 24 horas...

Minha cabeça estava um turbilhão... Ele continuava com aquele discurso que era melhor eu desbodear. Afinal, eu nunca a tinha amado mesmo. ELA NÃO ERA BOA O SUFICIENTE PARA MIM. E só o que eu conseguia repetir como resposta era “bom, talvez eu possa mudar...”
É incrível perceber como você fica por horas vislumbrando algo, sem conseguir enxergar aquilo que está bem diante de você... E incrivelmente ele estava quase me convencendo disso tudo... Acho que cheguei a dizer algo próximo a “Bem... De fato, talvez o que eu sinta por ela seja meramente físico, então, já que quando amei pessoas de forma metafísica nunca consegui concretizar o desejo físico, pensei que fazendo o caminho contrário pudesse vir a amar”... Era estranho ouvir essas palavras saindo da minha boca, mas tudo era muito estranho...

Ele dizia que uma hora eu poderia encontrar alguém, mas que a Graziela definitivamente não era essa pessoa... Chegamos ao altar do nosso casamento... Meu Deus! Como eu podia ter desistido tão rápido? Continuamos conversando... Analisei a questão de todos os pontos de vista, até chegar ao absurdo de dizer “vamos avaliar os prós e contras de ficar com ela”... Sim, quando essas palavras saíram da minha boca, eu senti nojo de mim mesma. Interrompi o raciocínio...
Parei de tentar entender a Grazi... Tentei começar ver o que realmente me incomodava... Comecei pela superfície “Bem, todas as minhas namoradas eram mentirosas, fingiam ser quem eu gostaria que elas fossem, para evitar atrito, e isso terminou mal. A Grazi não aceitou fingir, e isso me incomoda... Talvez todo mundo esteja certo, e eu nunca vá encontrar alguém que seja bom o suficiente para mim...”, “você não é o boa o suficiente para você mesma...”

Comecei a assumir... Assumir que talvez o que eu esperasse dela fosse admiração e não Amor... Mas o amor poderia se construir com o tempo certo? Então comecei a avaliar se poderia construir um amor, se sim, se valia a pena, e se sim, como. Eu capitalizei meu amor, minha vida, minha alma. Acho que nunca presenciei uma escuridão de alma mais profunda do que aquela minha.

Perguntei para o Eric o que fazer, ele me disse pra ligar para ela, me desculpar e me passou o roteiro. Segui. Não fui honesta. Ela percebeu. Talvez não num nível consciente, mas percebeu. Aquilo foi comodismo não Amor.

Me irritei, eu disse que eu estava errada, ela disse “eu sei, mas no problem”, como ela podia realmente achar que eu estava errada?

Olhei para o Eric, antes ele tinha dito que me ajudaria com o “como” se eu quisesse mesmo amar a Grazi, perguntei “como?”. Ele só disse “Amar alguém é saber que não existe no mundo ninguém melhor do que essa pessoa”. Escutei, não ouvi.

Estava irritada, pensando nos prós e contras. Mas será que valia mesmo a pena? Ela não era boa o suficiente para mim... Foi o que ele sempre me disse, não é? Se aquilo estava tão fadado ao fracasso... Quis desistir. Mas por que não podia? Não sabia a resposta. Mas quis mais uma vez, procurar dentro da minha mente um motivo para ficar.

Por fim disse “Bom, o amor ele te eleva, então mesmo que dê errado, se eu aprender a amar a Grazi, bem... Cresceremos juntas”, “Mas você não acha nojento querer amar alguém visando o crescimento pessoal? Não é igualmente nojento do que querer amar alguém pelo patrimônio material da pessoa?”, “Mas isso seria um bem...”, “Mas seria amor?”... “Não... Não seria...”
“Desiste, não há saída”... Foi a segunda frase mais repetida da noite... Mas se não havia saída, por que eu insistia tanto? Seria mesmo mera birra? Não! Eu não podia desistir!

Conversei mais um pouco sobre as atitudes dela, falando sobre a ligação... O Eric novamente mudou o foco, disse que eu era boa demais para ela... Quando pensei que meu nível de escrotidão tinha chegado no nível máximo, fui surpreendida com minha boca pronunciando “o pior nem é ser boa demais para ela! O Pior é ela ser uma ingrata que não sabe nem ao menos apreciar isso...”... Nessa hora ele só me olhou e disse “Amar alguém é saber que não existe no mundo ninguém melhor do que essa pessoa...”

Finalmente, entendi. Entrei em choque. Senti nojo de mim mesma...

Minha alma conseguiu o mínimo de quietude. Pensei. Por fim, disse:

- Se eu quiser amar a Grazi, só há um caminho... Simplesmente amar!
- Sim, mas ao pronunciar isso, tudo isso que você acabou de racionalizar o amor, portanto, é impossível simplesmente amar... Acabou... Não tem saída...
Fiquei quieta um instante... Por uma fração de segundo me pareceu que ele estava certo. Mas finalmente esse sabe-se lá o que que estava obscurencedo minha mente se dissipou e eu respondi com mais convicção do que nunca antes:
- Não! Você está errado!
- An?
- É... Você está errado... Casamos num eclipse...
- Sim, o Sol e a Lua, mas a terra estava no meio...
- É... Mas ela não ficará no meio para sempre... Isso foi se fechando até chegar no ápice da escuridão, mas agora a Lua começa a se libertar, e eu consigo ver... Minha inteligência... Bem, minha inteligência vai morrer junto comigo... minha beleza, bem.. essa nem vai ter que esperar minha morte para me abandonar! Minha esperteza, minha história, meus conceitos... Tudo, tudo ilusão... Nada disso importa! Além disso, quem criou os critérios para julgar quem é melhor que quem? Não! Não me importa nada disso! Não! Nada mais importa! É tudo bobagem, e vaidade... Eu simplesmente amo... Amo essa que nesta vida se chama Graziela Natasha Massonetto... Amo, e simplesmente amo! Sem explicação... Eu a amei desde que ouvi o som da sua voz dizendo um simples “hey!”... A amei sem conhecer seu rosto, saber suas idéias, suas história, mal sabia sua voz... Não sabia nem o nome... Mas sim, a amei desde este momento sem saber que amava! A amei quando ela estava distante. A amei antes mesmo de a conhecer... Pois sempre foi ela a pessoa sem rosto, sem nome, sem identidade que eu sempre soube que amava... A amo mesmo quando odeio, mesmo quando não amo, mesmo quando está distante... E eu estou simplesmente cansada desses jogos... De querer mostrar quem eu não sou! Esse jogo nojento de poder. De querer mostram que manda... E achar que o outro deve se submeter a sua vontade... De ter ciumes por querer provar que o outro é sua propriedade... Mas você quer saber? Pouco importa o que você diz, porque eu vou continuar amando a Graziela mesmo que ela me “traia” com o mundo todo, e mesmo que ela cheire até o nariz dela explodir, e mesmo que ela faça qualquer coisa... Pois foi ela que eu amei desde antes dela existir... E não me importa mais se ela me ama de volta... Não importa mais nada... Só o amor importa, e mais nada...
Então numa atitude bizarra, ele me olhou, me aplaudiu e disse “finalmente, pensei que você nunca ia entender...”


p.s.: ironicamente, acabei de reparar, esta é a postagem número 213, mesmo número do ônibus que passar próximo da minha casa e me levaria até a casa dela...

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