segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Sobre dar um tempo

Dizem que de boa intenção o inferno está cheio e que mente vazia é oficina do diabo. Pelo visto eu tenho uma mente vazia cheia de boas intenções.

Eu demorei para entrar de fato no mercado de trabalho, mas paradoxalmente, antes eu era uma pessoa muito mais ocupada: eu fazia cursos, tinha a faculdade, saia bastante, sempre estava envolvida em coisas novas. Atualmente eu cai numa rotina massante, mas que me deixa muito tempo livre, e pouca disposição para preenche-lo.

Eu tenho um emprego que me consome entre 20h e 30h por semana, mas que ao mesmo tempo me deixa sem animo para fazer basicamente nada. O que não estava sendo tão prejudicial assim, até que após muitos anos ocorreu a fatalidade de eu me apaixonar.

Como disse em postagens anteriores, claro que eu tive muitos casinhos e fogo no rabo, e que não dizer que nesse casinhos eu não tenha ficado igualmente paranoica  (até porque, acredito que a paranoia seja meu estado de espírito padrão), acredito que a grande questão é que das outras vezes eu não me importava muito se seria ou não inconveniente. Acredito que essa foi uma atitude muito egoísta, e talvez, no final das contas, seja para isso que sirvam os sentimentos: nos fazer criar empatia e transformar a convivência um pouco mais aprazível.

Desde sábado às 21h eu estou incomunicável: sem meus números de celular, sem whatsapp, sem facebook... Claro que eu não tenho auto-controle o suficiente para me manter em reclusão, por isso foi necessário pedir um pouco de ajuda: os chips do meu celular foram retirados e uma amiga mudou minha senha no face.

Mas eu precisava me forçar a dar um tempo, porque o acesso irrestrito a meios de comunicação é um prato cheio para alimentar minha paranoia: ficar olhando a cada 5 minutos para o celular sem ter recebido uma resposta... terrível! se visualizou e não respondeu então! morte! e se depois de muito tempo a resposta vem seca... o fim definitivo...

Acho engraçado como os novos meios de comunicação aproximam e afastam as pessoas. Sei que essa reflexão já virou um lugar comum, mas geralmente as pessoas partem de outros pressupostos, elas acham que (principalmente) a internet afasta as pessoas porque quando você sai com alguém, não dá atenção para a pessoa porque não desgruda do celular, mas isso é uma meia-verdade. Eu sou uma completa viciada em mexer no meu celular, mas todas as vezes que sai com ela, eu sempre deixava ele do lado, acho que os celulares e smartphones só viraram o esconderijo perfeito contra as más companhias. Meu ponto aqui é outro: acredito que o excesso de acesso não deixa espaço pra saudades, e abre muito espaço para especulações e por consequência, para paranoia. A velha história do visualizado e não respondido, sendo que é impossível você saber os reais motivos pelos quais a pessoa não pode, ou até mesmo não quis, te responder.

Eu tenho um incrível dom de transformar tudo que eu toco em um fardo. Acho que no começo, com ela foi tão bom, justamente porque não havia expectativas, cobranças, e haviam hiatos. Claro que por começo eu me refiro a um coleguismo casual, e que é natural que com sentimentos mais intensos surja uma maior necessidade de contato. Mas eu estou absolutamente saturada de cometer sempre os mesmo erros, então mesmo que seja para ela sair da minha vida, que já com a mesma leveza que ela entrou, não que vê-la fugindo de mim.

Mas acima de tudo, eu dei esse tempo e esse espaço para mim mesma. Eu até consigo levar a vida de boa, mas quando as coisas começam a ficar desfuncionais, vira um efeito dominó e eu acabo emendando um erro no outro indefinidamente. Eu precisava desse tempo. Não sou uma alma tão evoluída que conseguiu ficar totalmente confortável com a própria companhia, mas passei o último dia vendo filmes e séries, que me fizeram pensar, refletir sobre a minha vida. Não fiquei numa quietude absoluta, mas não havia ninguém para dialogar, havia apenas um vídeo que passava uma mensagem e minha capacidade de refletir sobre ela.

E a partir disso, minha ideia de dar um tempo curto, de menos de 48h se transformou numa necessidade de maior reclusão. De novo eu cai no mesmo erro de parar de viver para mim e viver para os outros, não alguém específico (menos mal), mas para todos os outros, e é desgastante demais viver sendo uma eterna decepção, porque acredite, quando você se importa demais com a opinião alheia, você nunca será bom o suficiente.

Eu sei que sou um ser humano comum, e que tem desejos e necessidades, mas eu percebi que a concretização desses desejos, especificamente o sexo, sem estar vinculado a uma conexão mais profunda, me causa dor, e uma sensação de fragilidade e desamparo. Percebi que não quero mais correr atrás de alguém pelo simples medo de estar sozinha. Acho melhor aproveitar mais minha própria companhia e salvar minhas energias para alguém que valha a pena. Mas o que mais mudou no meu pensamento nesse curto período de reflexão é sobre esse "valer a pena". Eu sempre pensava nas características que a outra pessoa tinha, que sim, são importantes, mas não podem ser o único ponto. Para alguém valer a pena, não basta ser alguém que faça meu coração disparar e me deixe com as pernas bambas, tem que ser alguém que tenha seu coração disparado por mim e fique com as pernas bambas quando me vê.

Acho que eu nunca tive reciprocidade, eu me apaixonei por muita gente, que ou nem ligou, ou me usou como teste de heterossexualidade, ou simplesmente só queria um caso rápido sem profundidade. Sei que algumas pessoas já se apaixonaram por mim, mas ai foi a minha vez de ser a canalha sem profundidade. Eu mereço mais do que isso. Eu cansei de relacionamentos de dois meses, que não duram porque simplesmente um dos lados está seriamente comprometido em fazer ele não durar.

A partir de agora, viverei para mim, e por mim, e não deixarei muito espaço para ninguém entrar, acho que eu faço mal a todos que me rodeiam e isso faz mal para mim. Se algo tiver que acontecer, o destino que se encarregue, porque eu estou realmente cansada de correr eternamente atrás do horizonte, e perceber que a cada passo que eu dou, é um passo que ele se afasta

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