quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A pior melhor coisa que já me aconteceu

Acho que nunca fiz questão de fazer segredo do fato de que sou uma viciada em paixões, apesar de eu ter melhorado muito nos últimos anos. Percebi que se apaixonar pode ser divertido, mas não vale a pena pular de cabeça em relações rasas, não vale a pena mutilar minha alma por pessoas que nem vão lembrar que eu existo depois de uma semana. Aprendi a ter relações, mas com os dois pés no chão... o que talvez a primeira vista seja bom, mas que efetivamente me transformou numa pessoa superficial, que não sentia quase dor, mas que também não sentia quase nada.

Relações utilitárias ou meramente sexuais podem ser mais simples, mas no fundo deixam um vazio, que você pode teimar em ignorar, mas que faz com que tudo perca pelo melhor um pouco das cores e vibrações.

Mas seja nas minhas relações intensas ou nas superficiais, o script sempre foi o mesmo: eu via, "me apaixonava" (escolhia o alvo) e a partir dali criava situações para que aquilo se tornasse real. Mesmo quando eu sentia aquilo de modo tão real que doía na pele, ainda sim era quase que meramente um jogo de sedução. Jogos repetitivos e irritantes, cartas marcadas. Primeiro, a aproximação, os sorrisos, a sedução. Depois das brigas as discussões. Não acho que fosse algo necessariamente deliberado, mas eu nunca deixei de ser uma criança mimada que cismava que queria algo, e quando conseguia logo perdia o interesse pelo "brinquedo" novo, e dava uma forma de quebrar para correr atrás do próximo desafio.

Não quero com isso dizer que nunca senti nada real, que tudo que vivi até hoje foi uma mentira, porque isso seria injusto comigo mesma e com todas as pessoas que me marcaram, me ajudaram a crescer e ser alguém melhor. Só que quero dizer é que nunca me mostrei de fato, sempre eram não um, mas dois personagens: no começo o "príncipe encantado" e que logo era substituído pela "bruxa má", e entre um e outro sobrava pouco espaço para eu de fato me exercer, de fato ser quem eu era.

E foi então que aconteceu a pior melhor coisa que poderia me acontecer: eu me apaixonei pela minha melhor amiga. Claro que eu já me apaixonei por (melhores) amigas antes, mas isso foi bem lá atrás quando eu tava me descobrindo, e tudo era muito turvo na minha mente, e afeto, amizade e sexualidade não eram coisas claras na minha cabeça. Novamente, não digo que aquilo não tenha sido real ou necessário, só digo que foram situações completamente diferentes desta.

Eu me sentia muito sozinha, justamente porque sempre estava pulando de uma relação superficial para outra, com amigos distantes, que tomaram outros rumos em suas vida. E foi então que eu a vi, e ela foi uma dessas pessoas que você não explica, mas sente como se conhecesse desde que a eternidade, e dá até vontade de perguntar "hey! por que você demorou tanto? eu estava te esperando!". Mas eu não senti a menor atração por ela, e aquilo foi um alívio tão grande! O que eu precisava era uma amiga, e não mais uma paixão. E ela namorava, e meu lesbodar nunca se enganar: ela era irreversívelmente hetero! Ela não era um desafio a ser conquistado. Ela era simplesmente uma pessoa incrível, que me dava uma sensação de paz de tranquilidade que eu não achava em mais nenhum lugar, uma pessoa com dezenas que coisas em comum, e alguém que provavelmente eu já tinha cruzado várias vezes pela vida sem reparar, de tantos lugares em comum que frequentávamos.

Eu não precisava ser o príncipe encantado, nem a bruxa má, nem o bobo da corte, nem nenhum personagem marcado. Depois de muitos anos eu tinha novamente uma amiga! Com a qual eu podia ser simplesmente eu mesma, passar vergonha, falar merda, mostrar minha fraqueza, alguém que mais do que entender, eu estava disposta a entender. Eu não via motivos pra caçar brigas, simplesmente pra tornar as coisas "mais quentes e interessantes", na verdade, o que eu queria era justamente aquela paz, ela se tornou meu refúgio.

Eu sempre me apaixonei por aquilo que meus olhos viam. E não só no sentido de me apaixonar primeiro visualmente, mas me apaixonar por quem estava sempre perto, aquela pessoa de todo dia, que quase me sufocava com a sua presença e me fazia esquecer quem eu era. Eu sei que é ridículo eu dizer isso, mas ela se aproximou de mim um pouco, mas não tanto, e eu não me esqueci de quem eu era, e eu não me confundi com o que ela era, e eu a vi. Eu pude tirar a máscara, porque não tinha medo que ela fugisse, e ela não fugiu. Mas literalmente na contra-mão de tudo que eu já vivi e senti, essa paixão não veio da presença, mas da ausência. Ela não estava ali sempre, mas em certos momentos ela estava sempre ali. A gente se conheceu num show da Karina Buhr, e desde então todos os outros show lá estávamos nós juntas.

Então pela primeira vez ela não foi, e eu pensei que ok. Só que de repente aquela ausência fez falta, a na dicotomia criada ali, eu percebi que me importava. Ainda demoraram longos dias para eu perceber que estava apaixonada, ou para me apaixonar, nunca vou saber. Mas a partir dali começamos a conversar quase que todos os dias. E todos os muros que eu resistentemente mantenho erguido em volta do meu coração, começaram a ser desmantelados tijolo por tijolo. Não por grandes provas de amor, mas por um "bom dia" insistente, por um "dormiu bem?", por um se importar simples e honesto.

E agora me sinto com o coração preenchido e partido. Ao mesmo tempo que ela me faz um bem danado, que a simples existência dela na minha vida me faz feliz, existe uma terrível dor e frustração de perceber que esse sentimento não é recíproco. Eu quero que ela seja feliz e falo isso com a maior honestidade do mundo, se ela se relacionar com alguém que a faça bem, estarei bem. Mas ao mesmo tempo dói e dói muito saber que essa pessoa não sou eu. Ouvir ela me falando do quanto gosta de outro cara, e do como ela é foda e muito melhor do que eu. É difícil ouvir que ela me odeia (mesmo que de "brincadeira") e que por mais bem que eu queira fazer pra ela, ter que ouvir que eu to destruindo a vida dela.

Acho que a maior facilidade de se apaixonar por alguém que você não conhece, é que quando dá errado e pessoa vai embora, por mais que seja chato, você não está perdendo alguém que é realmente importante na sua vida. E agora estou cheia de dedos, medindo cada atitude pra não magoá-la, e parece que quanto mais eu tento não fazer merda, mas merda eu faço. Não acredito que exista uma saída fácil. Só sei que preciso descobrir um jeito de tirar esse mal(ben)dito sentimento que cisma em criar raízes e crescer a cada dia mais.

Todas as opções parecem tão estúpidas! Me afastar por medo de perde-la? Como cometer suicídio por medo de morrer. Insistir em algo a mais quando ela claramente não me quer? Seria basicamente assinar a sentença dela saindo da minha vida. Engolir e esquecer esse amor que sinto? Parece o mais razoável, mas parece totalmente idiota abrir mão de um dos melhores sentimentos que já senti na minha vida.

Por isso não sei se agradeço por aquele fatídico 28.04.15 ou se desejo jamais tê-la conhecido.

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