sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Fracassar

Ao mesmo tempo que sei que os conceitos de fracasso e sucesso são questões meramente subjetivas, quando bate essa sensação de fracasso, é difícil se apegar a teorias metafísicas, você sente que você é um erro e ponto final.

Quando você é criança e olha para os adultos, você sempre espera que será algo da vida, tem sonhos, planos, e olhando de fora, tudo parece simples. Não que hoje eu inveje a vida da minha irmã, mas quando ela fez 18 anos, ela já estava na faculdade, tinha um carro, tinha um emprego que ganhava qse 5 mil por mês e namorava um cara há 3 anos. Claro que depois eventualmente tudo isso ruiu, mas na minha cabeça infantil de 11 anos de idade, as coisas para mim seriam igualmente orgânicas e simples, eu não esperava ter uma vida, mas um fluxograma.

 Mas acho que tenho uma personalidade forte demais, tenho impulsos intensos demais, tenho opiniões polêmicas demais, tenho dúvidas profundas demais, tenho tudo demais, ao excesso, ao nível semi-doentio, então era demais pedir que eu trilhasse o caminho que a maioria trilha.

A maior parte do tempo eu me orgulho disso, de ter aberto meus caminhos com minhas próprias mãos, e ter nadado contra a corrente para manter a integridade entre mim e a minha verdade. Porém, de repente eu paro e olho: tenho quase 27 anos, poucos amigos, nunca tive um emprego com mais de 1 ano de registro em carteira, nunca tive um relacionamento de fato longo e estável, moro até hoje na casa da minha mãe e o máximo que consegui foi morar fora por 6 meses. Nunca sai do país porque tenho medo de avião... E nunca fui organizada a ponto de guardar dinheiro suficiente. Quando estou sozinha em casa, durmo na sala com a TV ligada, porque tenho medo da solidão, mas ao mesmo tempo me isolo de tudo e de todos e me impeço de criar laços profundos e verdadeiros.

Eu sei que pode soar um pouco idiota, mas ai me vejo apaixonada por uma garota de 22 anos, que já é formada na faculdade, ganha basicamente o mesmo que eu, é muito mais responsável, teve um relacionamento de 4 anos... E eu me sinto ridícula... Ridícula por ser tão infantil e passar meus dias compartilhando coisas idiotas na internet, coisas que aliás (quase) ninguém lê, ridícula por estar tão a esmo, quando alguém que deveria estar mais "perdida" que eu já sabe bem as direções da própria vida, mas acima de tudo ridícula por acha que uma pessoa tão errada como eu pode ter uma chance com alguém tão certo quanto ela.

É até engraçado pensar como ao menos conseguimos construir uma amizade. Ela se veste de social, eu uso um tenis do pelanza e cabelo azul, além de um péssimo gosto pra me vestir. Ela não dança nem na balada, eu danço no meio da rua, cantando eu mesmo músicas aleatórias e forma desafinada. Ela fala baixo e nunca perde a compostura, eu falo alto quase o tempo todo, e a maior parte do que eu falo é besteira. Ela trabalha com livros, artigos, pesquisar, escritórios, e eu lá no bar, sentando com os clientes, abrindo uma cerveja enquanto fumo um cigarro. Ela não fuma.

A gente é tão diferente que até dói. Mas ela me fascina. E de uma forma tão estranha parece que a gente é tão parecida. Mesmo quando a gente conversa, ela me manda uma frase, eu mando umas 15. Eu sempre sinto que estou incomodando, mas ao mesmo tempo quero que ela faça parte da minha vida, e quero saber como ela está.

Eu sou o tipo de pessoa estranha que ama sem acreditar no amor, e que reza sem acreditar em deus. Sei que é uma tremenda loucura, mas algumas coisas conseguem ser racionalmente tão impossíveis, mas emocionalmente tão reais, tão corretas. Quando eu morrer, ou eu paro de rezar ou eu começo a acreditar em deus. Quando essa história tiver um desfecho, eu finalmente descubro se paro de amar, ou se começo a acreditar no amor

Um comentário: