sábado, 27 de setembro de 2014

A Arte de Esquecer

Talvez a vida seja composta de uma dialética bizarra na qual sempre queremos aquilo que ainda não temos ou o que já foi deixado para trás. Por muito tempo eu fiquei em um grande limbo existencial, e por mais que eu me dedicasse e buscasse inspiração, nada me tirava do meu tédio (quase) absoluto. E naquele momento eu daria tudo para poder sentir novamente, sentir qualquer coisa, boa ou ruim, mas que fizesse eu sentir a existência.

Pois bem, em um golpe bizarro do destino, eu voltei a sentir, e não apenas uma coisa, mas muitas de uma vez. Um sentimento complexo e paradoxal. Algo que me fez sentir novamente viva, mas que não mesmo tempo me dava vontade de morrer. A dor e o prazer estavam intrinsecamente misturados.

Mas esta foi uma história que nasceu errada desde o começo, algo que não pode e não deve acontecer. E talvez por isso tenha sido tão bom, talvez por isso tenha me movido do meu tédio. Porém, como eu disse no começo, a vida é essa dialética bizarra. Alguns chamam de ingratidão a gente querer sempre o que não tem, eu chamo simplesmente de vida, porque a satisfação completa por paralisaria. E apesar de ser algo recente, com pouco mais de um mês, e chegada a hora de voltar a praticar a milenar arte de esquecer.

Não para fugir do sofrimento, pois, pelo menos comigo, a dor e o prazer nunca conseguiram existir um sem o outro, mas porque é algo sem futuro. O que incomoda não é a dor em si, mas a frustração do desejo não realizado. Eu poderia me contentar com raspas e restos, desde que essas raspas e restos fossem só para mim, mas não são. O que recebo é muito pouco, muito menos do que preciso para satisfazer esse desejo louco que me consome.

E se por um lado essa paixão me tirou do tédio, por outro, e meramente por comparação, ela faz as outras coisas parecerem ainda mais tediosas.

Nos últimos anos tenho me esforçado muito para não me perder nos meus infernos particulares. E por isso é a hora de por um fim. Porque essa relação nem satisfaz o desejo que ela mesma cria, e me faz perder o interesse pelas outras coisas. E isso não pode acontecer. Porque sei que um dia, ela irá embora, e o que restará serei eu, e portanto, tenho que estar inteira.

Talvez a arte de esquecer (alguém), seja a arte de lembrar de si. As cobranças têm vindo de todos os lugares, e eu dou o melhor que posso, mas nunca é o suficiente, e estou começando a me cansar de ter que provar o tempo todo quem eu sou. Porque na minha ânsia de provar, eu esqueço de ser.

E me pergunto: será que existe algo entre meus infernos e meus paraísos que não seja esse nulo absoluto? Talvez eu esteja ficando velha, para começo a deseja uma vida tranquila, porém, este parece ser o caminho errado. Mas para que eu possa descobrir o caminho certo, preciso pensar, e para conseguir pensar em qualquer coisa que não seja nela, primeiramente, terei que descobrir uma forma de esquecer...

Nenhum comentário:

Postar um comentário