quarta-feira, 4 de junho de 2014

Eu sei que não é culpa dela (nem de ninguém)

Acho que durante minhas crises depressivas desencadeadas por alguma desilusão amorosa, as pessoas devem me achar mais louca do que de fato eu sou. Talvez fique a impressão de que estou sendo excessivamente dramática e fazendo tempestade em copo d'água. Afinal, nenhuma garota merece que eu me destrua assim.

O problema é que ao me julgar, as pessoas partem de seus próprios pressupostos. Elas estão tão condicionadas a uma cultura "romântica", que acreditam que aquela pessoa é a responsável por quebrar meu coração e levar todos meus planos pro bueiro, junto com as minhas motivações.

Mas essa idealização do amor romântico que quando não concretizado devasta a vida do amador é uma projeção delas sobre mim, porque eu sei que não é nada disso. Não vou mentir e dizer que sempre soube disso, mas quando se convive com crise extremamente problemáticas durante muitos anos, você para de procurar culpados e busca razões muito mais complexas, e não falo mais em culpa, e sim em "gatilhos".

E não posso culpar ninguém pelas minhas crises, nem mesmo meu pai que me abandonou e me entregou de bandeja para um predador, nem meus estupradores, nem meus familiares com história crônico de abuso... E se não culpo esse monstros, lógico que não culparia uma pessoa adorável cujo o único "pecado" teria sido não me querer como eu a queria.

Claro que as atitudes alheias me afetam diretamente, mas muitas pessoas passam por experiência parecidas, algumas até piores e lidam com isso de outra forma. Não estou dizendo que haja um jeito certo ou errado de lidar com seus fantasmas, mas sem dúvidas eu tenho uma predisposição para depressão, e mesmo que tivesse sido só fatores ambientais que a causaram, com certeza não foi um fato isolado e muito menos a culpa de uma pessoa só. E também não foi minha culpa! Sei que faço minhas escolhas, e que elas igualmente me afetam, mas repito: é uma confluência de fatos.

E decidi admitir que lidar com isso está além das minhas forças, porque quando se trata de alguma debilidade mental, seja a nível físico, psicológico ou psiquiátrico, as pessoas tendem muito a culpar o doente. É basicamente a mesma lógica do estupro: se você está sofrendo com isso, de alguma forma a culpa é sua. Mas ninguém em sã consciência poderia escolher viver nesse eterno mal estar.

Não se trata de querer, ou não se esforçar o bastante para mudar as coisas. Se alguém é diagnosticado como diabetes, óbvio que a pessoa vai mudar a alimentação, e óbvio que algumas escolhas alimentares ao longo de sua vida colaboraram com o quadro, mas ninguém questiona que de fato há uma predisposição genética, influência de outros fatores ambientais, e a necessidade de uma tratamento para controlar a doença por quanto tempo for necessário. Mas quando se trata de depressão, bipolaridade, esquizofrenia, etc, etc, etc a lógica não é a mesma. Parece que querer procurar ajuda te dá um estigma ainda maior.

E eu to cansada das pessoas dizendo que não devo procurar ajuda porque tenho que encontrar forças dentro de mim, porque não é tão grave assim, eu que gosto de me fazer de vítima, que basta eu querer mudar que tudo melhora, que isso vai matar minha criatividade, o que é uma pena já que tenho tanto talento...

E parece que ninguém liga pra mim ou pro meu bem estar. Ninguém liga que se todo os dias quando eu acordo a primeira coisa que eu penso é "Meu Zeus, como seria bom estar morta", isso não é uma mera falta de boa vontade. E também não adianta querer me reduzir as suas experiência pessoais! Isso é diminuir minha vivência, meu esforço e até mesmo minha individualidade.

Enfim, mas o que queria dizer nesse post é que mesmo nas crises, sempre me resta uma ponta de racionalidade, e que se serve para alguma coisa, quero deixar nos registros que não tenho mágoa da Karina, e nem acho que ela seja a causa dos meus problema (coitada, caiu de para-quedas no meio da minha loucura), e que sei que não foi por mal, mas ela simplesmente acionou certos gatilhos meus, o que, diga-se de passagem, não foi muito difícil, já que já faz muito tempo que estou numa "fase" terrível.

Espero que as coisas se ajustem, e que as crises parem, e que eu possa amadurecer de fato, porque poderei usar tudo que venho aprendido ao longo desse anos sem colocar tudo a baixo porque de repetente por uma semana eu decidi não sair do meu quarto e na semana seguinte eu resolvi ofender todo mundo ao meu redor, e em seguida me trancar novamente no quarto e ficar me auto-mutilando...

É uma verdadeira merda me esforçar tanto para dar um mísero passo para frente, e quando vem a crise, me sinto dando 5 passos para trás. Me sinto naquela música da dona aranha, que nunca chega a lugar nenhum, porque não importa o quanto ela se esforce em subir, vem a chuva forte e lá está ela de volta a estaca zero, mas a gente sempre recomeça, né?

Não acho que terei uma vida perfeita, e sei que haverão dias de chuva, só espero que esses dias não sejam mais capazes de destruir basicamente tudo que eu amo.

Espero um dia não ter que perder a amizade de alguém que amo tanto, só porque essa pessoa, num tropeço, disparou algum gatilho, e eu a atingi com tanta violência que sei que ela nunca mais voltará a querer olhar na minha cara...

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